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Memórias do Front: 2008

O objetivo deste blog é resgatar, através de artigos, histórias de pessoas que se envolveram no maior conflito da História - A Segunda Guerra Mundial - e que permaneceram anônimas ao longo destes 63 anos. O passo inicial de todo artigo publicado é um item de minha coleção, sobretudo do acervo iconográfico, a qual mantenho em pesquisa e atualização. Os textos originados são inéditos bem como a pesquisa que empreendo sobre cada imagem para elucidar a participação destes indivíduos na Guerra.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O desembarque do 1º Escalão da FEB em Nápoles

O dia estava claro e ensolarado. Fazia calor. Os homens desembarcavam um a um, praças e oficiais carregando suas bagagens. Depois de quase 15 dias a bordo do transporte de tropas, a sensação de se pisar em terra firme foi descrita por alguns veteranos de forma curiosa. O sargento Ferdinando Piske do 6º Regimento de Infantaria, afirmou que foi “com saudade que nos despedimos do maldito ‘morcego’ e, saco “A” nas costas, fomos deixando nossa residência provisória”.[1] O tenente Massaki Udihara , também do 6º, escreveu em seu diário que “não tive sensação alguma em pisar solo de novo. Nem aquela que se diz ter quando se pisa em solo estranho”[2]. Estes homens estavam, afinal, em Nápoles. Era o dia 16 de julho de 1944 e os soldados do 1º Escalão da Força Expedicionária Brasileira estavam desembarcando rumo à guerra.

Haviam embarcado entre os dias 29 e 1 de julho. O navio ficou três dias no porto até que a totalidade dos elementos estivessem a bordo. A operação foi coberta de sigilo e os homens não tinham idéia para onde estavam sendo removidos quando os deslocamentos se iniciaram. Os soldados, em geral, receberam uma folga extraordinária do final do dia 27 até as 18:00 horas do dia 29, afim de resolverem seus últimos problemas antes do embarque. A ordem era clara: quem não retornasse até as 18 horas seria, invariavelmente, considerado desertor.

A primeira leva de embarque, na qual estava incluído o Sargento Piske, saiu da Vila Militar no Rio de Janeiro às onze horas da noite do dia 29 via trem até o porto do Rio. Lá, os soldados se depararam com a visão do gigantesco navio de transporte de tropas americano General Mann. Este navio tinha capacidade de transportar mais de 6 mil homens, além de sua tripulação. Os soldados eram acomodados em galerias com uma média de 450 leitos em cada uma, na forma de beliches com quatro andares.

O transporte de tropas levaria ainda parte do Estado Maior da FEB – o General Mascarenhas e o General Zenóbio estavam a bordo -, o 6º RI, o Batalhão de Saúde, o 2º Grupamento de Obuses e outros elementos que integravam a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE).

O navio partiu pela manhã do dia 2 de julho de 1944. A imagem que ficou gravada na mente da maior parte dos homens naquele dia foi a do Cristo Redentor, acima no Corcovado, enviando uma benção a todos que se deslocavam para o Teatro de Operações ainda em segredo. Piske assim se recorda: “Na saída da barra, um espetáculo inesquecível aconteceu de repente. A cerração baixou um pouco e lá no alto, emoldurado por um céu azul imaculado apareceu a estátua do Cristo, no alto do Corcovado. Parecia que o Senhor nos dava adeus e nos abençoava nessa viagem, de rumo desconhecido”.[3] O general Mascarenhas, sempre magnânimo, teve a mesma impressão: “Do Corcovado, circundado de bruma, emergia o Cristo Redentor, fitando os seus fiéis que para outras terras partiam com o objetivo de, ombro a ombro com os nossos aliados, defender o rico patrimônio da civilização Cristã”.[4]

A rotina dentro do navio aos poucos foi tomando os homens; os coletes salva-vidas não poderiam ser tirados em hipótese nenhuma; os enjôos afetaram a maior parte da tropa e o medo constante de um ataque submarino afetava a rotina diária. Mas de uma coisa Piske se lembra muito bem: as refeições a bordo do General Mann eram ótimas. Ao estilo americano, possuíam bacon, suco de frutas e as frutas, propriamente ditas. Acostumados ao rancho do Exército Brasileiro, a comida foi o primeiro choque que os brasileiros tomaram ao conhecer a organização de guerra do exército americano.

No dia 15 de julho já estavam na área do Mediterrâneo. O Tenente Udihara reconhece as ilhas Egadi, que ficam próximas as costas de Sicília e advinha onde o navio iria parar: Nápoles: “Já desde ontem estava desvendando o segredo, de todos conhecidos, do nosso destino: Nápoles. Amanha pela manha lá estaremos vendo o Vesúvio”.[5]

O navio iniciou os procedimentos para atracar no porto de Nápoles. Os homens estavam ansiosos e cansados da vida do general Mann. Foram 15 dias de viagem, de enjôo, de falta do que fazer; e a grande surpresa: a baía de Nápoles, na visão de Piske “era um vasto cemitério de navios afundados!”[6]. O Vesúvio dominava a paisagem, não pelo tamanho, mas pela fumaça que saia de seu cume. Entrou em erupção pela última vez ainda naquele ano de 1944, não ocasionando danos ao ambiente. Todos se recordavam das histórias ouvidas sobre sua mais famosa erupção, ocorrida no ano 79 que enterrou uma cidade romana que ficava próxima ao vulcão.

Atracaram por volta do meio dia e o desembarque se iniciou. Vemos na imagem que ilustra este artigo soldados desembarcando carregando seus pertences e, no ombro esquerdo, o patch verde com a palavra “Brasil”. Os soldados com fuzis são militares americanos, auxiliando a operação de desembarque. Bem ao fundo, próximo a rampa de desembarque, um soldado com uma câmera filma os homens desembarcando. No alto, o restante aguarda a chamada para a descida. Pode-se enxergar também a tripulação do General Mann com cobertura branca na cabeça.

Navios de todos os tipos estavam atracados no porto. Narrando a atuação na guerra do tenente José Gonçalves, também do 6º RI, César Maximiano nos diz que aquela visão fez com que os soldados percebessem a dimensão do conflito em que se envolviam. [7] Estar na Itália significava se envolver na maior guerra de todos os tempos. E a enfrentar um inimigo que assolava a Europa desde 1939. Os soldados não sabiam o que iriam encontrar; não imaginavam como seria a resistência do inimigo nem como seria a vida dentro dos fox-holes para os homens da infantaria. Traziam, no entanto, a vontade de lutar pelo seu país.

Saindo do porto, os soldados brasileiros entraram em contato com a miséria da guerra. O tenente Udihara desceu por volta das três horas da tarde e não pode deixar de notar a pobreza e a destruição da cidade italiana. Esta foi a impressão que mais marcou os soldados brasileiros: os efeitos da guerra junto a população civil que nada tinha a fazer, além de se lamentar. Para ele o povo era “aparentemente pobre. Crianças sujas, esfarrapadas. Expressão de desanimo, tristeza, opressão, de falta de vitalidade em quase todos. (...) Por onde passamos tudo fechado e sem vida. (...) a pobreza choca de doer e deixar meio enjoado.”[8] Mulheres italianas com saias curtas se aglomeravam ao redor da coluna de soldados, curiosas. Era a prostituição que campeava pelas ruas em troca de comida, chocolate ou cigarros. Com a marcha a pé e com uniforme verde-oliva, os primeiros soldados foram confundidos com prisioneiros alemães. Mas o caldeirão étnico que formava a FEB bem como o distintivo Brasil no ombro revelou aos italianos serem aqueles soldados da liberdade. Em poucos minutos as pessoas passaram a mendigar por comida e cigarros, mas os brasileiros nada levavam a mão.

A marcha durou cerca de uma hora até chegarem a uma estação de trem onde embarcaram. Chegaram, cerca de 40 minutos depois já anoitecendo, a um acampamento militar na cratera de um vulcão chamado Astronia, próximo ao subúrbio napolitano de Bagnoli. O local era lindo. Cercado de montes elevados e arborizado era o primeiro acampamento da FEB. Ali ficariam cerca de dez dias: “A tropa permaneceu em Agnaro, sua primeira escala, durante cerca de 10 dias, quatro deles alimentando-se com enlatados, dormindo ao relento e a mercê das intempéries. (...) conforme havia sido combinado tudo [material necessário para o estacionamento da tropa] deveria ser fornecido pelos norte americanos e indenizado pelo Brasil. Mas nada foi providenciado, sob alegação de os oficiais não terem sido alertados para essa previsão” [9]. Ali a tropa receberia as primeiras instruções antes de ser novamente deslocada. A partir de então, a FEB estava oficialmente incorporada ao V Exército Norte-Americano e, dentro de algumas semanas, passaria pelo seu batismo de fogo que só terminaria em abril de 1945.

[1] PISKE, Ferdinando. Anotações do Front Italiano. Florianópolis: PCC, 1984. p. 27
[2] UDIHARA, Massaki. Um médico Brasileiro no Front. São Paulo: Hacker Editores, 2002. p. 52
[3] PISKE, p. 21
[4] MORAES, J.B. Mascarenhas. A FEB pelo seu Comandante. 2°. ed. Rio de Janeiro, 1960. p. 24
[5] UDIHARA, p. 51
[6] PISKE, p. 26
[7] GONÇALVES, José. MAXIMIANO, César. Irmãos de Armas. São Paulo, Codez, 2005. p. 60
[8] UDIHARA, p. 53
[9] MOURA, Aurélio. A luta antes da guerra. Revista Nossa História, ano 2 nº 15 , janeiro 2005. p. 21


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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Tenente Samuel Battalio: Bombardier líder em um B-17

A dor que sentia era horrível. Sua perna esquerda havia sido diretamente atingida por um estilhaço de Flak nas proximidades do alvo primário, o pátio ferroviário de Hamm, na Alemanha, naquele início de tarde de 19 de setembro de 1944. O sangue que corria de seu ferimento banhava toda a grossa roupa que usava para escapar do frio das altas altitudes. O tenente Samuel Battalio era, naquela missão, o Bombardeador líder. Sua tarefa principal era localizar o alvo com precisão e dar o comando para que os outros aviões de seu grupo lançassem suas bombas sobre o alvo. Seu senso de dever e responsabilidade fez com que, mesmo ferido, continuasse o trabalho iniciado horas antes, quando Battalio e sua tripulação, sob comando do Coronel William Travis, decolaram a bordo do B-17 44-8017 "The Sad Sack” em direção a Alemanha.

Battalio havia se alistado em 1939 no Exército dos Estados Unidos da América. Posteriormente pediu transferência para a Força Área do Exército como cadete. Recebeu treinamento para bombardeador e, provavelmente, se formou em 1943. Após a formatura, foi transferido para um centro de treinamento intensivo de vôo onde conheceu a sua tripulação e lá passou também a conhecer melhor um B-17. Dali em diante, este avião seria seu passaporte de ida e volta para a guerra.

Samuel Battalio chegou a Inglaterra no verão de 1944. Foi designado para o Centro de Substituição de Tripulação em Bovingdon. Lá aguardaria ser designado para um dos milhares de grupos de bombardeio que estavam aquartelados na Inglaterra e faziam parte da 8ª Força Aérea.

Designado foi para servir junto ao 327º Esquadrão de Bombardeio ligado ao 379º Grupo de Bombardeio da 8ª Força Aérea. A este grupo pertencia também o B-17 conhecido como Lil Satan cuja história aqui já foi descrita. (Lil Satan: O destino de uma Fortaleza Voadora. )

A primeira missão de Battalio foi em 13 de junho de 1944. O alvo primário era um aeródromo na França e o local não foi escolhido por acaso. Naquele dia, possivelmente, muitos soldados americanos olhariam para o céu e veriam o desfile das frondosas fortalezas voadoras rasgarem o céu em direção ao coração da França ocupada.

Sucessivamente, até o mês de setembro, Battalio realizaria missões quase que diárias. Os alvos, em geral, eram na Alemanha; objetivos julgados estratégicos como pátios ferroviários, refinarias, fábricas de material de guerra e aeródromos. A missão que marcaria a vida de Battalio não só fisicamente, mas também em sua memória se realizou em 19 de setembro de 1944. Neste dia o esquadrão de Battalio bombardearia o pátio ferroviário da cidade de Hamm na Alemanha. Battalio vinha sendo há algumas missões o bombardeador líder. Este cargo denotava grande dose de responsabilidade e competência: o avião carregava, além do bombardeador líder, também o navegador líder. O próprio avião era o primeiro da formação e, em geral, o mais visado tanto pelas baterias de FLAK no solo quanto pelos caças alemães. Mas naqueles primeiros dias de setembro a resistência alemã se resumia muito mais ao FLAK do que ao acompanhamento da formação por caças inimigos. A maior parte das missões já era acompanhada por escolta integral, realizada pelos P-51 Mustang.O piloto do B-17 44-8017 "The Sad Sack” era o Coronel William Travis.[1]

Nas proximidades de Hamm a concentração de nuvens mostrou ser impossível a visualização do alvo. Nesse caso, abandonava-se o alvo dito primário em favor de um secundário. As tripulações, sempre que realizavam o briefing, recebiam uma lista e informações de até quatro alvos sempre em ordem de prioridade: o primeiro era o objetivo da missão, mas caso se encontrasse encoberto, o avião líder do grupo poderia decidir rumar para o alvo secundário. A concentração de FLAK foi bastante intensa sobre o alvo e Battalio haveria de ser atingido: Um estilhaço o acertou diretamente na perna esquerda. A velocidade do estilhaço e as condições da alta altitude faziam um pequeno pedaço, menor que uma tampa de caneta, um artefato mortal. O sangramento era absorvido pelas roupas grossas que Battalio vestia e, possivelmente, o navegador o tenha auxiliado com os primeiros socorros.[2]

Mesmo ferido Samuel Battalio não deixou sua responsabilidade: continuou como Bombardeador líder da missão e assim o B-17 Sad Sack voou em direção ao alvo secundário, o pátio ferroviário de Heiger.

De volta a Inglaterra Battalio foi socorrido quando a fortaleza desceu em segurança. Impressionado pela frieza de Battalio durante a missão, mesmo ferido gravemente, o Coronel Travis indicou o bravo bombardeador no relatório produzido aquele dia a receber a Cruz de Serviços Distintos (DSC – Distinguished Service Cross - Imagem ao lado). Esta condecoração - a segunda das Forças Armadas americanas - só é antecedida pela Medalha de Honra do Congresso Americano. Em 1944 foi concedida a apenas 6 homens do grupo 379º. A ordem para condecorá-lo oficialmente veio em 11 de dezembro de 1944.

Talvez como premiação, Samuel Battalio foi convidado a receber sua medalha das mãos do General Carl Spatz, comandante Estratégico da Força Aérea, em 22 de dezembro de 1944 na cidade de Paris. Spatz era o homem da Força Aérea junto do General Hap Arnold. Ambos estavam hierarquicamente ligados ao comando do supremo comandante das forças aliadas General Einsenhower. Pela primeira vez, Samuel Battalio atravessaria o canal da Mancha e sobrevoaria o território francês longe de um B-17 e sem a dura missão de lançar bombas.

A nota no livro de Antologias do 379º Grupo indica que, junto com Battalio, outro bombardeador também receberia a Cruz de Serviços Distintos: era o 1º Tenente Thomas A. Carruth. A nota informa ainda que os homens voltariam para a Inglaterra com muito champagne, conhaque e perfumes. Lamenta-se, no entanto, que a cidade de Paris estivesse sofrendo com a ação de espiões alemães em trajes militares americanos e, por conseqüência, os clubes noturnos estavam fechados. [3]

O ferimento deixou Battalio longe da batalha por um longo período. Havia realizado até ali 23 missões de combate, a maior parte delas sobre território alemão. Suas habilidades o qualificaram como instrutor no período de recuperação das tripulações mais novas. Mesmo quando os esquadrões de bombardeio não estavam envolvidos em operações de guerra, os dias não passavam em branco: os vôos de instrução eram tão comuns quanto os vôos de batalha, não interessando quão veterana fosse uma tripulação.

Battalio voaria ainda mais 3 missões em 1945. Na imagem abaixo, Battalio é o terceiro homem da esquerda para a direita. A título de curiosidade, o B-17 danificado, nesta foto de outubro de 1944, faria um pouso de emergência na Rússia em março de 45 e lá ficaria confiscado pelos aliados russos.


Com o final da guerra o Tenente Battalio decidiu continuar no serviço ativo e chegou ao posto de Coronel durante a década de 60. Pediu transferência para a reserva em 1969 e se transformou em civil assumindo um cargo em uma empresa de informática. Battalio vem a falecer em janeiro de 2004 e está enterrado no cemitério de militar de ARLINGTON, em Washington.

Samuel T. Battalio não foi apenas um veterano da II Guerra Mundial: acompanhou o desenrolar da Guerra da Coréia e assistiu o início do declínio de poder americano na guerra do Vietnã. Foi um soldado altamente condecorado. Mas certamente, de todas as suas lembranças, as que mais deveria guardar eram aquelas relativas aos meses passados no aeródromo de Kimbolton, sede de seu esquadrão na guerra.[4]



[1]http://www.8thairforce.com/members/crew.asp?acAirCraftNo='44%2D8017'&misMissionNo=206&Group='379th'
[2] 379th Bombardment Group (H) ANTHOLOGY. November 1942-July 1945. p. 262
[3] 379th Bombardment Group (H) ANTHOLOGY. November 1942-July 1945. p. 287
[4] http://www.arlingtoncemetery.net/stbattalio.htm

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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Erich Topp: 346 dias no mar

"Eu fiquei fascinado com o senso único de camaradagem dividido pelos submarinistas mesmo diante das dificuldades onde cada um depende do trabalho do outro e onde cada homem é parte indispensável do todo. Certamente todo submarinista sentia em seu coração o brilho do mar aberto e as funções a ele confiadas o faziam se sentir tão rico como um rei". Almirante Karl Dönitz


Nenhum corpo de elite durante a II Guerra Mundial contribuiu tanto com seu próprio sangue em prol da guerra do que a elite das tripulações de submarinos da Marinha de Guerra alemã. Estimativas afirmam que as perdas da arma submarina variam de 70 a 80% durante a guerra. É inacreditável que, mesmo com tantas dificuldades e perdas, os homens dos u-boat tenham mantido seu espírito de camaradagem e elevado moral até o final da guerra. Por outro lado, a propaganda alemã investiu bastante em cima da campanha submarina e, mais especificamente, na importância das tripulações tornando estes homens heróis nacionais. Os louros da vitória recaiam, normalmente, aos comandantes dos submarinos. Assim, Erich Topp (imagem ao lado) foi um dos ases da campanha submarina durante a II Guerra Mundial.

Estes homens eram considerados uma elite não só por conta de seu árduo treinamento, mas pelo fato de que, até 1941, todos os homens em serviço na força submarina eram voluntários.[1] A história provou, durante a Segunda Guerra que os corações cooptados voluntariamente para o serviço de guerra haviam de ser muito mais eficientes do que aqueles enviados à linha de frente de forma coercitiva.

A composição da Marinha de Guerra alemã, apesar das medidas cerceadoras do Tratado de Versalhes, começa a tomar corpo durante a década de 30, especialmente após a ascensão de Hitler a Chanceler em 1933. Durante os primeiros anos de década de 30 muitos jovens se inscreveram em suas zonas militares como voluntários para o serviço na Marinha. Entre eles, em 1934, Erich Topp inicia sua carreira na Marinha. A partir dali até o fim de seus dias a vida de Topp estaria, inevitavelmente, ligada ao serviço na Marinha Alemã.

Para se tornar um oficial no corpo de submarinos da Krigsmarine, era necessário que o candidato tivesse alto rendimento não só físico como também intelectual e psicológico. Após o treinamento básico, cada oficial servia 3 meses e meio no mar em um barco a vela seguido de 1 ano em um cruzador além de estágios na academia naval. Era necessário que os candidatos a oficial desenvolvessem o sendo de responsabilidade e liderança durante seu treinamento. Fisicamente, o treinamento voltado para oficiais tinha ênfase em atividades esportivas que eram bastante competitivas. O candidato a oficial terminava seu treinamento com idade entre 24 e 25 anos. Em 1939, Topp tinha 25 anos e foi designado para o U-46 como oficial.

Mas Topp ficaria famoso após receber o comando de um submarino: o U-552, conhecido também como “Demônio Vermelho” por conta da alegoria desenhada em sua torre. Na imagem ao lado a torre do U-552 e seu símbolo. Será no comando do U-552 quer Topp realizará grandes patrulhas e cumprirá sua missão na Guerra: receberá a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro em 1941 por conta dos afundamentos realizados pelo U-552.


Até aqui Topp já era uma lenda: havia sobrevivido ao afundamento do primeiro submarino sob seu comando, o U-57 em setembro de 1940 após afundar seis navios em apenas duas patrulhas realizadas neste submarino. Erich Topp ganha então o comando do U-552 e tem o prazer de realizar a primeira patrulha deste submarino.

O U-552 era um submarino do tipo VIIc que acomodava uma tripulação de 44 homens e dois canhões anti-aéreos, um de 88mm e outro de 20mm. Este foi um dos modelos mais produzidos pelos estaleiros alemães durante a guerra: mais de 300 submarinos do tipo VIIc foram produzidos durante a guerra. Seu novo sistema de filtragem de ar e a adição de um novo sonar tornavam este modelo mais moderno em relação as suas variantes anteriores.[2] Abaixo, tripulação do U-552.


No comando do U-552 Topp protagonizará dois eventos emblemáticos da guerra: o primeiro deles é o afundamento do destróier americano USS Reuben James em 30 outubro de 1941, quase dois meses antes dos EUA entrarem na guerra. O destróier atuava no serviço de escolta a um comboio nas proximidades da Islândia. O impacto do torpedo lançado pelo U-552 foi tão direto que o destróier começou a afundar minutos depois de ser atingido. A tragédia maior aconteceu quando, entre chamas e explosões, as cargas de profundidade caíram no mar e explodiram matando os homens que estavam na água. O resultado foi arrasador: de uma tripulação de 160 homens apenas 10 sobreviveram. Todos os oficiais do USS Reuben James morreram.

O governo alemão se recusou a expedir um pedido formal de desculpas alegando que o destróier americano estava em zona de guerra. O incidente diplomático culminaria, em dezembro de 41, com a declaração de guerra dos EUA à Alemanha.

O segundo evento emblemático na carreira de Topp e na atuação do U-552 foi o afundamento do navio mercante David H. Atwater. Este navio estava afastado cerca de 16km da costa da Virginia, EUA. No início da noite de 2 de abril de 1942 a tripulação do Atwater reconhece a silhueta incomum do U-552 no horizonte. Este era o terror das tripulações de navios mercantes, pois, dificilmente, haveria escapatória: o navio era um alvo fácil por estar sozinho. Imediatamente sinais são enviados a Guarda Costeira americana relatando a presença de um submarino no local. O socorro, no entanto, chegaria tarde aos homens do Atwater.

A ação de Topp foi manter o submarino na superfície e a tripulação recebeu ordens de abater o Atwater com canhonadas de 88. Os primeiros tiros acertaram em cheio o convés do navio matando todos os oficiais. Ao todo seriam dados 93 tiros, dos quais a maior parte acertou o Atwater que já se encontrava, nesta altura, afundando com seus tripulantes e sua carga.

O Atwater tinha 19 homens e 8 oficiais como sua tripulação. Como o ataque foi noturno, os homens provavelmente já estavam recolhidos em seus alojamentos e tiveram pouco tempo para escapar. Como o navio foi atacado diretamente pelos canhões do submarino, suas áreas mais vitais foram atingidas e provavelmente muitos dos tripulantes morreram por conta disto.[3] O afundamento se deu em 45 minutos. O U-552 já estava submerso a esta altura em busca de novas presas.

Ainda nesta patrulha Topp afundaria mais 3 petroleiros além de barcos menores. Na historiografia sobre a campanha submarina este período ficou conhecido como o segundo “Tempo Feliz” onde mês após mês a ação dos submarinos alemães no Atlântico era impecável. A tonelagem mensal aumentava frequentemente em relação a pequena média de submarinos afundados pelos aliados. Pudera: apenas após entrar na guerra, em dezembro de 41, os EUA passaram a patrulhar os oceanos em aliança com a marinha inglesa. A partir do ano de 1943 a maré de sorte mudará para os u-boats e a vastidão do Atlântico se tornará um local muito perigoso.[4]

Por conta dos afundamentos de março/abril de 42, Topp recebe a indicação para ganhar as Folhas de Carvalho da Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro além de indicação para receber o badge de submarinista com diamantes. Ainda em 42 receberá citação para a Cruz de Cavaleiro com Folhas de Carvalho e Espadas, terceiro grau da Cruz de cavaleiro. Apenas 150 homens de armas receberam esta condecoração durante a II Guerra Mundial.

Topp acumulava até aqui a marca de 30 navios afundados apenas no comando do U-552. Não há duvida de que ele desfrutou daquilo que se chamou o Período Feliz de afundamentos da marinha alemã. A vastidão do Atlântico, a pequena ação dos comboios, a falta de coesão entre as forças defensivas foram fatores que o auxiliaram neste feito de guerra.

Após agosto de 42, Erich Topp recebeu o comando da 27ª U-boat Flotilha onde as novas tripulações de u-boat recebiam treinamento. Receberá ainda o comando de mais um submarino no final da guerra sem, no entanto, realizar patrulhas de guerra. Acumulou, portanto, tanto no comando do U-57 quanto do U-552 um total de 346 dias consecutivos no mar.[5] Foi, certamente, um dos maiores comandantes de submarinos da Marinha de Guerra alemã na II Guerra Mundial. Após a guerra, Topp tornou-se oficial da Marinha da Alemanha ocidental se aposentando em 1968. Erich Topp faleceu em 2005.



[1] WILLIAMSON, Gordon. Wolf Pack: The Story of the U-Boat in World War II. Osprey , 2006. p. 149
[2] WILLIAMSON, Gordon. Wolf Pack: The Story of the U-Boat in World War II. Osprey , 2006. p. 26
[3] http://www.uboat.net/allies/merchants/1496.html
[4]Para mais informações: MASON, David. Submarinos Alemães: A Arma oculta. Rennes, 1976.
[5] A lista de patrulhas do U-552 pode ser encontrada aqui: http://www.u-historia.com/uhistoria/historia/huboots/u500-u599/u0552/u552.htm

VEJA TAMBÉM:

>> Carl Emmernann e o U-172: Patrulha rumo ao Rio de Janeiro

>> FIGHTIN BITIN: um esquadrão da 8ª Força Aérea Americana

>> A Infantaria na Fortaleza de Brest: A primeira batalha da ofensiva de 41.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Agressão: os Fatos que levaram o Brasil a Guerra

Em 1 de setembro de 1939, em uma ação que causou espanto no mundo, as tropas de Adolf Hitler cruzam a fronteira da Alemanha com a Polônia e iniciam a Segunda Guerra Mundial. Imediatamente França e Inglaterra reagem em favor a independência da Polônia e contra a ameaça nazista. Porém, em breve a guerra chegaria também ao quintal dos aliados. Nas Américas a notícia da guerra tomou a primeira página de todos os jornais. Ela seria dali em diante uma constante pelos próximos seis anos. ,

O Brasil era então governado por Getúlio Vargas. Há quase dois anos o país vivia o Estado Novo, um golpe silencioso arquitetado durante o ano de 1936 e 1937 que culminou em uma ditadura instaurada por Vargas em 10 de novembro de 1937. O fechamento do Congresso, a proclamação de uma nova constituição e o fim definitivo da campanha eleitoral foi justificado pela ameaça comunista, o ‘terror vermelho’ que ameaçava ‘diabolicamente’ as estruturas democráticas do país. Também foram decretados inimigos do Estado Novo os integralistas, comandados por Plínio Salgado e os partidos políticos, entre eles o Partido Nazista que contava com uma pequena célula no Brasil.

Com o início do conflito mundial, o Brasil permaneceu neutro. Mas esta realidade mudaria bruscamente por conta dos ataques ao porto americano de Pearl Harbor em dezembro de 41 no Hawaii. A conseqüência imediata foi uma reunião as pressas das dirigências dos países americanos no Rio de Janeiro em 1942 que deveria decidir que caminho os países latino-americanos deveriam tomar. Com o ataque, os EUA declararam guerra as potências do Eixo. O Canadá, como aliado da Grã-Bretanha, estava envolvido diretamente com tropas no conflito desde 39; restava os países latinos resolverem sua posição de neutralidade ou guerra.

Às vésperas da realização da Conferência, em janeiro de 1942, os embaixadores do Eixo no Brasil entregam cartas ao governo brasileiro. Estas cartas possuem conteúdo de ameaça na tentativa de pressionar o governo brasileiro a manter a neutralidade perante os países do Eixo, apesar da ofensiva contra um país americano. A carta alemã deixa claro que, se qualquer nação latino-americana efetivamente decidir pelo corte das relações diplomáticas com a Alemanha acontecerá a “eclosão da guerra efetiva”. 1

No entanto, apesar da pressão coercitiva dos embaixadores, todos os países latino-americanos, com exceção de Chile e Argentina, cortam suas relações diplomáticas com os países do Eixo. Ao contrário do previsto, o embaixador alemão recebe instruções para não pressionar mais o governo brasileiro e em 28 de janeiro abandona o Brasil rumo a Buenos Aires para continuar com suas atividades diplomáticas. Após a conferência o governo brasileiro, em cooperação com os Estados Unidos, passou a tomar algumas medidas concretas contra o Eixo, de ordem interna. Tanto jornais como agencias telegráficas de países inimigos foram fechados bem como a ordem para a ocupação do saliente nordestino pelos americanos foi expedida, com vistas a ajudar no esforço de guerra. A conferência também contribuiu para o fechamento de uma série de acordos militares entre Estados Unidos e Brasil. Atendendo ao ansioso espírito dos militares brasileiros, o exército finalmente é reequipado. Este desejo já era expresso pelos militares desde inicio da década de 30.

As ameaças expressas na carta do Embaixador alemão Curt Prüfer deveriam ser levadas a sério: naquele momento os militares brasileiros nada poderiam fazer se a Alemanha tomasse medidas contra o Brasil: as forças armadas efetivamente não podiam fazer a defesa do país, sobretudo da longa faixa costeira. Do outro lado do Atlântico, em Berlim, o Embaixador brasileiro é expulso e o comando de Submarinos da Kriegsmarine recebe ordens de afundar navios com bandeira brasileira. A Guerra chega ao quintal do Brasil em 15 de fevereiro, quando o cargueiro Buarque é posto a pique ao largo de Norfolk, na costa americana.2


O torpedeamento do Buarque causou a morte de onze tripulantes. No dia 18 de fevereiro de 1942 foi torpedeado o Olinda também próximo à costa dos Estados Unidos pelo submarino U-432. No dia 25 do mesmo mês o navio Cabedelo desapareceu misteriosamente, com 54 tripulantes. Após a guerra descobriu-se que foi torpedeado pelo submarino italiano, o Da Vinci.3

Para coordenar suas atividades no Atlântico, a Alemanha e a Itália criaram a partir de 1° de setembro de 1940, o Comando Superior da Força Submarina no Atlântico, baseado em Bordeuax. Ele coordenava uma vasta área, do litoral de Portugal às Antilhas e ao litoral brasileiro. O comando superior utilizou 32 submarinos durante o período de setembro de 1940 e setembro de 19434. No dia 7 de março novo navio é posto a pique, o Arabutan, também na costa de Norfolk, pelo submarino U-155. Em 10 de março o navio Cairu é destruído por dois submarinos ao largo de Nova Iorque.

O governo brasileiro protesta junto às representações diplomáticas em Portugal e Espanha. Pede para que cesse os ataques à frota brasileira mercante desprovida de proteção. A Alemanha desconsidera o pedido e o governo brasileiro edita um decreto-lei sobre Indenização por Atos de Agressão responsabilizando o Eixo pelos ataques. Uma série de medidas é tomada, como a incorporação das companhias de aviação LATI (italiana) e Condor (alemã), a incorporação de 16 navios do Eixo atracados em portos brasileiros, com suas tripulações sob o domínio jurídico brasileiro e a exigência de salvo-conduto para todo o estrangeiro do Eixo que quisesse circular pelo Brasil.5


Apesar das medidas tomadas pelo Brasil, as agressões prosseguem durante os meses de abril, maio, julho e agosto, culminado na segunda quinzena de agosto: em 15 de agosto o submarino alemão U-507 atinge o navio Baependi com majoritária população civil. Atingido, ele afunda rapidamente, causando a morte de 269 pessoas entre civis e militares. Se até então o Eixo mantinha seus ataques a marinha mercante brasileira, a partir desse momento não hesitou em atacar civis. O chefe de máquinas do Baependi, Arthur Kern, assim narrou o fato: “o primeiro torpedo, presumivelmente, deu-se na casa das caldeiras e o segundo também (...) arrebentou nos tanques de óleo combustível. Desde o primeiro estampido, contando um minuto ou talvez dois, o navio submergiu completamente”. No mesmo dia é posto pique também pelo U-507 o Araraquara, onde morreram 129 pessoas. O 1º piloto do Araraquara, Milton Fernandes, assim descreveu o torpedeamento: “Achava-me dormindo tendo acordado por motivo do estampido. Vi aproximar-se de mim o comandante perguntando ao oficial do quarto: - o que foi isso? Nervoso, o oficial perdera a fala, tendo sido eu quem lhe respondeu: Comandante, fomos torpedeados e estamos afundando”.6 O submarino U-507 ainda pôde por a pique mais 5 embarcações entre os dias 16 e 19 de agosto.

As manifestações acontecem Brasil afora. As cidades de Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo despontam como centros da indignação brasileira frente ao ataque indiscriminado do Eixo a população civil. Na foto ao lado, populares estyão em frente ao palácio do Governo no RJ aguardando o anuncio de Vargas. Até o dia 22 de agosto prosseguem as intensas manifestações culminando com a declaração efetiva de guerra feita pelo governo brasileiro na manha do dia 22. Eis o documento:

“O Sr. Presidente da República reuniu, hoje, o Ministério, tendo comparecido todos os ministros. Diante da comprovação dos atos de guerra contra a nossa soberania, foi reconhecida a situação de beligerância entre o Brasil e as nações agressoras – Alemanha e Itália. Em conseqüência, expediram-se por via diplomática, as devidas comunicações àqueles dois países (...)”7

Mesmo depois da declaração de guerra, mais 5 navios são torpedeados, desde a costa americana até a costa africana. O Brasil perdeu, no decurso de quase um ano de ações hostis, 472 marinheiros da marinha mercante e 502 soldados e civis, passageiros dos navios afundados.
Para documentar o fato, em 1943 o governo lança o livro Agressão – Documentário dos fatos que levaram o Brasil a Guerra com imagens dos mortos que chegaram ao litoral, imagens das passeatas no RJ e da reunião que definiu a declaração de guerra contra a Alemanha. Traz ainda os depoimentos de alguns sobreviventes, bem como o nome de todos os mortos. O documento é uma justificativa ao mesmo tempo que presta uma homenagem aos envolvidos nas agressões do Eixo. A capa e imagens das manifestações ilustram este artigo.

1 SEITENFUS, Ricardo. A entrada do Brasil na II Guerra Mundial. EDIPUCRS: Porto Alegre, 2000. p. 285
2 SEITENFUS, Ricardo. Opus. Cit,. p. 308
3 FALCÃO, João. O Brasil e a 2a. Guerra. Testemunho e depoimento de um soldado convocado. UNB: Brasília, 1998. p. 83
4 SEITENFUS, Ricardo. Op. Cit,. p. 309
5 FALCÃO, João. Op. Cit,. P. 84
6 Agressão – Documentário dos fatos que levaram o Brasil a Guerra: Imprensa Nacional, 1943.
7 Falcão, p 122

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Lil Satan: O destino de uma Fortaleza Voadora.

No dia 28 de junho de 1944 pilotos e mecânicos da RAF olhavam abismados o nariz do B-17 na foto ao lado. De costas, em primeiro plano, o piloto da Fortaleza avariada explica como tudo aconteceu. Os ouvintes não pareciam acreditar como esta fortaleza pode retornar de uma missão sem parte do nariz, atravessar o Canal e aterrissar, em pouso perfeito, na primeira base da Real Força Aérea Britânica (RAF) que a tripulação localizou no mapa de vôo. Se não bastasse, além de perder o nariz por conta de um bom tiro de um canhão antiaéreo 88, a fuselagem da fortaleza apresentava vários furos menores, provavelmente resultado dos canhões antiaéreos de 20mm.[1]

Naquele verão de 1944 as missões da 8ª Força Aérea, baseada na Inglaterra, haviam aumentado sensivelmente. Os aliados haviam finalmente atravessado o Canal e invadido a França por onde os alemães menos imaginavam: a Normandia. Como preparação à invasão e as ações dos dias subseqüentes, as tripulações de bombardeiros sofreram grandes baixas devido ao alto índice de missões perpetradas naquele verão. Mais ainda: agora as dezenas de aviadores que caiam em território inimigo diariamente e tentavam fugir, antes de serem prisioneiros de guerra, não era apenas de bombardeiros. Com o advento do P-51 e a possibilidade de escolta até a Alemanha tanto na ida quanto na volta das missões de bombardeios, agora também pilotos de caça americanos caiam dia após dia na Alemanha e territórios ocupados.

Também a Luftwaffe concentrava suas forças, agora, muito mais na ação da artilharia antiaérea do que em seus próprios caças: com as fábricas e os aeródromos constantemente bombardeados, estava difícil manter uma superioridade nos céus. Além disso, muitos grupos de combate ainda estavam alocados no leste, na vã tentativa de barrar o avanço das tropas russas.

O fato é que em 25 de junho de 1944 a tripulação do Ten. Karl E. Becker se preparava para mais uma missão. O alvo seria a ponte da região de Coulanges Sur Yonne, na França, setor bastante defendido pelos alemães. Na Inglaterra o tempo estava mal-humorado, como de costume, mas a previsão do tempo garantia uma visibilidade de 50% a 75% sobre o alvo. A missão não deveria ser longa – a previsão era de 6 horas para completá-la.

A tripualação do Ten. Becker voaria na aeronave de número 42-97890 conhecida como "Lil Satan". Os tripulantes daquela missão seriam os tenentes Patrick D. Rawls, Robert W. Evans e Arthur M. Maatta respectivamente o co-piloto, o navegador e o bombardeador da fortaleza; os demais componentes eram os sargentos Robert A. Smith George M Brittain, James A. Lalorde, Francis J. Phillips e Joseph Simoncini. O Lil Satan levaria ainda como observador o Major Alexander B. Andrews que aparece na janela do co-piloto na imagem abaixo, observando o devastador efeito da artilharia antiaérea e se colocando na pele do Ten. Rawls, o co-piloto que estava naquela cadeira no dia 25 de junho.[2]





O Satan não havia voado muitas missões até ali: havia sido destacado ao 379º Grupo de Bombardeiro Pesado em 16 e junho de 1944 e realizaria um total de 21 missões até se perder em ação em setembro de 44.[3]

Era a última missão que o piloto, Ten. Becker iria realizar. Ele já havia pilotado 34 vezes um B-17 sob fogo inimigo e aquela seria sua primeira vez no Lil Satan. Desde sua primeira missão, em 11 de abril de 1944, Becker havia pilotado junto com Rawls, Phillps e Simoncini. Os outros membros do grupo já haviam voado com Becker outras vezes também. Tanto Maatta quanto Rawls, os outros oficiais a bordo do Lil Satan, já haviam realizado mais de 30 missões de bombardeio. Naquele ano a Força Aérea Americana havia subido a contagem de missões para 35 e não mais 25, como fora em 1943. Rawls voava sua 33ª missão e voaria ainda mais 3 antes de ser liberado.

Após bombardear o alvo com sucesso, o Lil Satan foi atingido pelo projétil de um canhão 88, próximo a Paris.[4] Era aproximadamente 9:20 da manhã e o tempo estava magnífico. O projétil acertou diretamente o nariz do avião e, dali em diante, a cena seria de horror. O nariz de plexiglass foi para os ares e, junto com ele, partes importantes da mecânica do avião. Além disso, é no nariz que se encontravam o bombardeador, onde com sua mira Norden poderia localizar com mais precisão o alvo, e o navegador, que de sua mesa controlava todo o trajeto do avião e era responsável pela economia de combustível e rotas aéreas em caso de emergência.

A força da explosão arrancou uma das pernas do bombardeador, Ten.. Maata, além de feri-lo na outra perna e nos braços. A barragem de artilharia continuava e o avião tremia terrivelmente por conta do ar que entrava pelo buraco aberto no nariz. O navegador, diante de tal cena de horror, pulou pelo buraco aberto no nariz da fortaleza. Enquanto isso, o Ten.Becker , através do intercom, verificava se o resto da tripulação estava bem enquanto segurava firmemente o manche da aeronave na tentativa de mantê-la sob controle. Poucos segundos depois também o artilheiro da cauda pulava do avião, Sgt. Simoncini.[5]

Becker virou a direita, por ordem do avião líder, para poder se livrar do FLAK. A barragem estava tão forte que dois motores foram também atingidos e estavam fora de operação. A vibração do avião aumentou muito por conta disso, mas a ordem de saltar ainda não havia sido dada pelo piloto. Cabia a ele decidir o melhor momento para a tripulação abandonar o B-17.

No cockpit a situação não era menos tensa: todos os instrumentos deixaram de funcionar, com exceção do medidor de altitude, que ainda indicava uma altitude superior a 17 mil pés. Com dois motores a menos e um buraco enorme na fuselagem, o Lil Satan vinha perdendo altitude rapidamente. Pelo intercom Becker contatou todos os tripulantes e decidiu por tentar levar a fortaleza de volta à Inglaterra como a única forma de poder salvar a vida do bombardeador, Ten. Maatta. Esta situação mostra muito bem como estes homens eram ligados por laços de grande amizade e fraternidade.

O Major Andrews, com ajuda de outro artilheiro, Brittain, conseguiu trazer o bombardeador mais para dentro do avião para mantê-lo aquecido, pois o frio que entrava pelo nariz era tenebroso. Os primeiros socorros iniciaram: uma dose de morfina foi dada a Maatta e um torniquete foi feito acima do local onde sua perna foi arrancada pelo impacto inicial. Ao lado, imagem do Ten. Maatta.

O Canal já podia ser visto a frente; o tempo, instantaneamente, mudou sobre o Canal e a fortaleza começou a perder altitude. Com apenas dois motores e sem instrumentos, a força de vontade com que o piloto Becker e seu co-piloto, Ten. Rawls lutavam para controlar o Lil Satan eram inacreditáveis. A alta concentração de nuvens fez com que os pilotos optassem por descer a altitude mais baixa e a visibilidade da costa britânica era menos do que o ideal. O radio operador, Sgt. Smith começou a enviar sinais de radio indicando a posição do Satan sobre os primeiros quilômetros do território inglês. O rádio também havia sido danificado pelo FLAK e não recebia sinais.

O Ten.Becker (imagem ao lado) estava firme na proposição de retornar a sua base. Mas este sonho estava ficando cada vez mais longe. Junto com o co-piloto, escolheram uma base da RAF, a primeira no mapa, a cerca de 15 quilômetros da costa como ponto de aterrissagem. A preocupação agora era outra: como aterrissar, pois sem o sistema hidráulico o avião estava sem freios, os flaps poderiam ou não funcionar e não se sabia se os trens de pouso baixariam ou não. Na primeira tentativa os flaps funcionaram e parte do trem de pouso também; mas este enguiçou e o engenheiro de vôo, Sgt. Brittain se pôs a descê-los manualmente. Aproximando-se da pista todos se puseram a rezar; aquela missão com certeza nenhum deles jamais esqueceria.

O Lil Satan se aproxima da pista e desce, em uma aterrissagem fenomenal. Mesmo com um dos pneus do trem de pouso danificado pelo FLAK, o avião parou ao final da pista de pouso. Luminosos vermelhos foram lançados pelos tripulantes, indicando que havia feridos a bordo do B-17. Ambulâncias da RAF não tardaram a aparecer, mas o bombardeador, Ten. Maatta não sobreviveu a perda de sangue decorrente dos ferimentos do impacto do 88.

As informações ainda eram incompletas: não se sabia noticia do Ten. Evans e do Sgt. Simoncini que haviam pulado do Lil Satan naquela manhã. A noticia, trazida pela Cruz Vermelha em 14 de setembro de 44 indicava que Evans estava morto e foi enterrado em um cemitério na França, pelos alemães. A informação veio do Dulag Luft em 2 de setembro de 44 e indicava que o corpo de Evans havia sido encontrado ainda em 25 de junho depois das 11 horas da manhã, já morto. Não existem detalhes sobre a causa e as circunstâncias da sua morte. O Major a bordo reportou que, na hora em que foram atingidos pelo FLAK que arrancou o nariz do avião, o Ten Evans tinha sangue em seus braços. Joseph Simoncini foi feito prisioneiro no mesmo dia e levado também para o Dulag Luft, um campo de triagem para os aviadores presos pelos alemães.

Pela próprio relato de Becker, manuscrito e anexado ao MACR, ao saber que o Ten. Maatta estava gravemente ferio, ele decidiu, junto com Rawls, tentar retornar a Inglaterra. Anunciou sua decisão no INTERCOM aos tripulantes e deu-lhes a opção: quem quisesse poderia abandonar o avião. O navegador, Ten Evans e Sgt. Simoncini optaram por abandonar o avião e pularam. O resto da tripulação permaneceu a bordo do Lil Satan.[6]

O Lil Satan permaneceu cerca de 3 semanas em reparos. Ele perdeu a sua nose art e foi batizado, posteriormente, de Queen O’Hearts. Mas sempre ficou conhecido como Lil Satan e era considerado um avião azarado por conta de sua história.[7] Superstições a parte, o Lil Satan ou Queen O’Hearts foi abatido sobre a Alemanha em 28 de setembro de 1944. Neste dia a tripulação que ele carregava não era mais a do Ten. Becker; mas os homens que lá estavam também conheceram a morte de perto. Com exceção do piloto e do navegador que morreram, todos os outros tripulantes foram feitos prisioneiros de guerra. Com os motores da asa direita em chamas e perdendo altitude, a tripulação abandonou o Lil Satan por volta das 11:30 da manhã no entorno da cidade de Magdeburg na Alemanha.[8]

Da primeira vez em que foi atingido, o Lil Satan pode garantir a segurança dos seus tripulantes e leva-los de volta para a Inglaterra. Mas não resistiu a destruição ao ser atingido pela segunda vez e seguiu seu destino: provavelmente o Lil Satan explodiu ao se chocar contra o solo alemão.


[1] National Archives USA - NARA. Cópia na coleção de Fernanda Nascimento. Imagem inédita.
[2] National Archives USA - NARA. Cópia na coleção de Fernanda Nascimento. Imagem inédita.
[3] Pesquisa no banco de dados do site http://www.8thairforce.com/
[4] Mission Narrative em: 379th Bombardment Group Anthology, Volume 2 por Turner Publishing Company p. 221
[5] Missing Air Crew Report MACR 6738, Publication Number: M1380, National Archives, USA.
[6] Missing Air Crew Report MACR 6738, Publication Number: M1380, National Archives, USA.
[7] http://www.geocities.com/missy092869/planes.htm James E. Rung Navegador que fez 9 missões no Lil Satan depois que foi restaurado. O conhecia como Queen Queen O' Hearts
[8] Missing Air Crew Report MACR 9634, Publication Number: M1380, National Archives, USA.


VEJA TAMBÉM:

>> Raid sobre Schweinfurt: A saga da tripulação do Ten. Wheeler – PARTE 1

>> Raid sobre Schweinfurt: A saga da tripulação do Ten. Wheeler – PARTE 2

>> SKY TRAMP: um bombardeiro pesado no Pacífico.

>> O B-24 Bad Girl e o projeto Azon

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Carl Emmernann e o U-172: Patrulha rumo ao Rio de Janeiro

Era um sábado de verão em 1943.[1] Os homens no porto de Lorient estavam nervosos: embarcariam novamente em sua segunda casa, o submarino alemão U-172 com destino às águas do Atlântico Sul, mais especificamente à costa do Rio de Janeiro. A maior parte dos tripulantes era jovem: muitos ainda não haviam entrado na casa dos vinte anos e a maioria não passava de 25. A foto ao lado foi tirada neste 29 de maio. Pode-se observar os tripulantes, com seus coletes salva-vidas, acenando entusiasticamente em direção ao porto.*

Naquele ano, especialmente naquele verão europeu, as perspectivas para os submarinos alemães estavam mais sinistras ao longo de todos os mares navegáveis do globo. As centenas de patrulhas aliadas, lideradas por americanos, caçavam onde podiam a ameaça velada do III Reich. Em contrapartida, em terra, a situação também não era favorável a Wehrmacht: com a derrota em Stalingrado e o avanço no leste detido pelos russos, a esperança de transformar o território eslavo em um grande trigal para a Alemanha através do trabalho subjugado de centenas de homens e mulheres desmoronava. Também as esperanças no oeste não eram as melhores. Os aliados estavam invadindo a Itália e, em breve, Rommel teria a árdua tarefa de estancar o avanço aliado ainda nas praias da França.

Mas em Lorient tudo era festa. Os marinheiros se despediam de suas namoradas francesas ou mesmo de seus parentes alemães. Iam em busca de mais uma presa na imensidão do atlântico.

Em 29 de maio de 1943 partia de Lorient o U-172 comandado pelo Capitão (Kapitänleutnant) Carl Emmernann (foto ao lado). Aquela seria a 5ª patrulha realizada pelo U-172 desde 1942, já sob o comando de Emmernann. Ele conhecia aquele U-boat como ninguém: era praticamente a sua segunda casa onde passara, ao lado de seus comandados, momentos de alegria e terror, de pura adrenalina e alívio imediato. Era ali que combatia seus medos, decepções, alegrias e, era ali, que pensava intimamente em seu futuro. O capitão, em ato simbólico, foi o ultimo a entrar no submarino e fechar sua escotilha. O momento da partida chegara.

O U-172 era um submarino do tipo IX C com 750 toneladas e 76 metros de comprimento. Foi construído nos estaleiros de Bremen e estava ligado a 10ª Flotilha baseada em Lorient, na costa francesa. Para sua defesa possuía um canhão 105mm além de dois outros canhões anti-aéreos de 20mm divididos entre suas duas plataformas. Podia carregar até 22 torpedos. Era tripulado por 44 homens e 4 oficiais. Para navegar na superfície, contava com dois motores a diesel que alimentavam, enquanto ligados, as baterias dos dois motores elétricos que o mantinham submerso.[2] Poderia submergir 14m em 30 segundos. Havia realizado até ali, maio de 1943, quatro patrulhas que culminaram com a destruição e afundamento de 21 navios de várias categorias e nacionalidades nas regiões do Caribe e Atlântico Sul. Por suas atividades durante o ano de 1942, Emmernann recebeu a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro em 27 de novembro de 1942.

Naquele ano de 1943 os submarinos alemães já tinham sido responsáveis pelo afundamento de mais de 150 navios aliados de várias categorias, mercantes e militares, totalizando milhares de toneladas de ferro e aço no fundo do mar.[3]

A sorte dos u-boats só começou a mudar a partir do verão de 1943; até então a curva de afundamento de navios X afundamentos de submarinos era permanentemente alinhada ao lado dos afundamentos de navios. Mesmo durante o ano de 1942, com os americanos já na guerra, o período de caça fora bastante fértil. Com a entrada dos EUA e da maior parte dos países latino americanos na guerra, o Almirante Döenitz ampliou o raio de ação dos u-boats para o Atlântico norte e sul. Esses submarinos, em média 5 ou 8, eram deslocados em direção ao Caribe e a costa americana. Além disso, os americanos ainda não estavam totalmente preparados para se defender da ameaça submarina. Não obstante, a formação de comboios começou a ter inicio para a proteção dos navios mercantes. Também as cidades litorâneas passaram a ter blecaute total, como medida anti-submarina.

Mesmo o Brasil foi atingido pela campanha dos u-boats; a partir da segunda quinzena de fevereiro de 1942 os submarinos alemães e alguns italianos entram em atividade no Atlântico norte, nas ilhas caribenhas e ao logo do litoral brasileiro. Em 15 de fevereiro é posto a pique o cargueiro Buarque, ao largo de Norfolk, na costa americana. [4] O torpedeamento do Buarque causou a morte de onze tripulantes. No dia 18 de fevereiro de 1942 foi torpedeado o Olinda também próximo à costa dos Estados Unidos pelo submarino U-432. No dia 25 do mesmo mês o navio Cabedelo desapareceu misteriosamente, com 54 tripulantes. Após a guerra descobriu-se que foi torpedeado pelo submarino italiano, o Da Vinci.[5]

Para coordenar suas atividades no Atlântico, a Alemanha e a Itália criaram a partir de 1° de setembro de 1940, o Comando Superior da Força Submarina no Atlântico, baseado em Bordeuax. Ele coordenava uma vasta área, do litoral de Portugal às Antilhas e ao litoral brasileiro. O comando superior utilizou 32 submarinos durante o período de setembro de 1940 e setembro de 1943.

Para aumentar o raio de ação dos u-boats, durante o ano de 1942 foi desenvolvido um sistema de reabastecimento de combustível para os submarinos: um submarino apelidado de “vaca leiteira” poderia transportar até 600 toneladas de diesel, aumentando assim o raio de ação daqueles submarinos que já estavam em ação nos oceanos. Além disso, a consciência de batalha desenvolvida pelos tripulantes de u-boats fazia com que houvesse racionamento de água e viveres para que se pudesse estender ainda mais a presença nos mares. Claro que tudo dependia do trabalho em equipe: cozinheiros inventavam métodos de aproveitamento total de comida e economia enquanto engenheiros trabalhavam na difícil tarefa de reduzir o gasto de combustível sempre que possível. Os resultados eram visíveis: algumas campanhas chegaram a durar mais de 12 semanas.



A vida dentro de um submarino não era fácil: os períodos de lazer e ar puro tinham validade de ouro. Como pela escotilha só entrava um marinheiro de cada vez, em caso de emergência e necessidade de submergir, não poderia haver muitos homens no deck. Logo, os momentos de relaxamento do submarino eram extremamente valorizados. A imagem que ilustra este artigo nos mostra o capitão Emmermann (de quepe na imagem) e outro tripulante desfrutando de um raro momento deste. O verso da foto nos indica a direção que o submarino iria tomar: nela está escrito “Rio de Janeiro, verão 1943”.












Naquele sábado o submarino partia para seu objetivo designado como “Patrulha do Rio”. O objetivo desta patrulha era claro: aumentar o raio de ação dos u-boats no Atlântico Sul, especialmente na costa brasileira, devido ao intenso movimento de navios cargueiros entre o Brasil e a América do Norte e a Europa. Para os aliados a patrulha ficou conhecida como a Blitz de Julho.

A “patrulha do Rio” a qual o U-172 fazia parte e havia zarpado naquele 29 de maio de Lorient, levava consigo outros 9 submarinos que deveriam operar próximos a costa brasileiras. O comandante da 4ª Frota, Almirante Ingram, responsável pela defesa do Atlântico sul, decretou em 25 de junho estado de alerta submarino em todo o trecho do litoral entre Salvador e a Baía de Guanabara. “A blitz de junho, como o Almirante Ingram a denominou, fora projetada por Döenitz para atuar ao largo da costa brasileira, interessando as Guianas e o Estuário do Amazonas, estendendo-se mais para leste, até o litoral do Maranhão, onde se verificou a maior concentração de u-boats inimigos”.[6]

O saliente do Nordeste brasileiro serviu aos aliados enormemente durante a guerra. Já no ano de 1942 as bases aéreas na Bahia e em fortaleza abrigavam vários esquadrões de patrulha e ataque a submarinos, pertencentes à Força Naval da 4ª Esquadra do Atlântico Sul, coordenada pelos americanos. Devido ao catastrófico mês de março no Atlântico norte, as medidas anti-submarinas foram aumentadas e em maio de 43 dois esquadrões de patrulha e ataque foram distribuídos no nordeste Brasileiro. Esperava-se que, com o combate dado a Blitz submarina no atlântico norte a partir de abril, que os u-boats transferissem sua área de operação para o atlântico sul. E a assertiva dos aliados estava correta.

O U-172 e sua tripulação foram reconhecidos em águas brasileiras em 28 de junho quando o mercante inglês Vernon City foi afundado a 550 milhas do cabo de São Roque. Antes disso, o U-172 havia recebido suprimentos em algum ponto entre os Açores e o saliente nordestino.[7] Com o afundamento do Vernon City, a tonelagem total de afundamentos de Emmermann foi a 169.102 mil toneladas e com isso estava apto a receber as Folhas de Carvalho da Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro. A citação foi recebida pelo capitão em alto mar, no dia 4 de julho de 43.

Em seguida, em 12 de julho, no litoral de São Paulo o U-172 afunda o cargueiro americano African Star, na localização de 25º 46' S 40º 35' W. No dia 15 de julho, a 620 milhas do Rio de Janeiro, o U-172 afundou o navio britânico HARMONIC. Emmermann deu a ordem de que a tripulação do Harmonic abandonasse o navio e só após ele foi afundado. A tripulação do Harmonic, distribuída em barcos salva vidas, recebeu viveres e a direção ao qual prosseguir a fim de encontrar terra. Apenas um homem morreu. Em 24 de julho outro navio britânico foi atacado. Desta vez foi o FORT CHILCOTIN com 7,133 toneladas. Este foi o último navio reclamado por Emmermann em sua missão.

Continuando sua missão aos arredores da costa brasileira, no inicio de agosto o U-172 recebe uma mensagem para se encontrar com dois outros submarinos: o U-185 e o U-604. A epopéia do U-604 havia se iniciado no inicio de agosto. Comandado pelo capitão Horst Hölting, que deveria patrulhar a costa brasileira por um período de 4 semanas, o U-604 foi surpreendido em 30 de julho por um bombardeiro Ventura que fazia uma varredura anti-submarina. Imediatamente quatro bombas foram lançadas pela tripulação do Ventura acertando o U-604. O capitão Hölting pede auxílio ao Comando Geral Submarino que lhe promete um encontro com o U-185 e o U-172. O U-185 se encontrava próximo a costa de Alagoas e havia afundado um navio do Loíde Brasileiro em 31 de julho. A troca de mensagens foi captada pelo Comando da 4ª Esquadra que se pôs a preparar o ataque aos submarinos.

O U-604 continua sendo perseguido até 4 de agosto. Já localizado, o U-185 se envolve em escaramuças com um destróier em 6 de agosto. Pelos próximos dias os dois u-boats passam despercebidos até que em 11 de agosto o U-185 e o U-604 conseguem se encontrar em alto mar. Os homens do U-604 trabalhavam duro para transportar as provisões e combustível ao U-185, a fim de afundar o seriamente avariado U-604. Algumas horas depois chega ao local o U-172 que deveria receber parte da guarnição do U-604 e leva-la de volta a Lorient.

Os marinheiros suavam frio: depois de dias de caçada incansável pelos aliados, havia a esperança de retornar a salvo as bases na França. O encontro com o U-185 e o U-172 de Emmermann significava isso. A tarefa estava quase completa quando os marinheiros de plantão, na torre, distinguem a silhueta de um avião no horizonte. Era um Liberator B-24 responsável pela patrulha no Atlântico. Por coincidência, sua tripulação era a mesma que havia caçado o U-185 desde 3 de agosto e havia partido da base de Natal.[8]

O B-24 surge no horizonte metralhando os três submarinos e procurando o melhor momento para lanças as suas bombas. Os segundos são de desespero. Alguns membros da tripulação do U-172 são feridos e Emmermann ordenou a imediata submersão do U-172 que ainda não havia sofrido nenhuma avaria de batalha. Por enquanto. Por efeito das bombas, que não o atingiram diretamente, o U-172 reportou problemas em alguns instrumentos e em duas baterias elétricas.[9] Enquanto isso o U-185 tentou proteger-se ao mesmo tempo que protegia o U-604. Suas medidas surtiram efeito: com suas baterias antiaéreas o B-24 foi derrubado e, alguns minutos depois, a tripulação do U-604 afundou seu submarino, transferindo-se para o U-185. Com lotação total, novo encontro é definido entre Emmermann e August Maus, comandante do U-185, para que nova transferência de homens fosse feita. Em 12 de agosto a tripulação do U-172 recebeu a bordo pouco mais de 20 homens do U-604.



Com excesso de tripulação, o U-172 inicia sua viagem de retorno a Lorient. Por volta do final do mês de agosto Emmermann e tripulação se encontram com o U-847, um submarino de 1.200 toneladas que estava em viagem para o Pacífico. O U-172 solicitou cerca de 30 toneladas em combustível do U-847. Após esse encontro o U-847 não mais foi visto e o Comando de Submarinos perdeu o contato com ele. Mais tarde se soube que foi afundado em 27 de agosto, sem sobreviventes.

A viagem de volta contou ainda com mais alguns transtornos: quase metade da tripulação adoeceu com fortes cólicas e febre alta. Também houve um encontro noturno com um submarino não identificado, próximo a Gibraltar. Foi efetuada a sinalização de reconhecimento diversas vezes, no entanto o submarino tardou a responder. Quando o fez, a tripulação do U-172 reportou erro na sinalização utilizada. Sem saber ao certo quem estava no horizonte, o U-172 submergiu e mudou de direção. É possível que o submarino não-identificado tenha sido o U-181 comandado por Wolfang Lüth.[10]

Próximo à costa da Espanha, o U-172 passou a navegar em superfície apenas durante a noite. Durante o dia permanecia submerso, sendo alimentado pelos motores elétricos. A medida era necessária, pois os aliados haviam posto bastante pressão aos submarinos alemães que circulavam próximos a costa espanhola. Muitos submarinos foram afundados poucos dias após deixar suas bases na França. Mas o U-172 chega salvo a Lorient em 7 de setembro de 1943, depois de 102 dias no mar. De todos os submarinos mandados à costa brasileira na “Patrulha do Rio” em 29 de maio, U-172 e sua tripulação foi o único submarino que retornou à salvo a sua base.


[1] Report on the Interrogation of Surbibors from U-172. Sunk 13 December 1943. Navy Departament, Washington. Final Report, G/Serial 29. April 1944. Disponível em http://www.uboatarchive.net/
[*] Todas as imagens utilizadas neste artigo são inéditas e pertencem a coleção pessoal de Fernanda Nascimento.
[2] http://www.u-historia.com/
3 MASON, David. Submarinos Alemães: A Arma Oculta. RENNES, Rio de Janeiro, 1975.
[4] SEITENFUS, Ricardo. A Entrada do Brasil na II Guerra Mundial. EDIPUCRS, 2000. p. 308
[5] FALCÃO, João. O Brasil e a 2a. Guerra. Testemunho e depoimento de um soldado convocado. UNB: Brasília, 1998. P. 83
[6] DUARTE, Paulo de Q. Dias de Guerra no Atlântico Sul. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1968. p. 238
[7] Report on the Interrogation of Surbibors from U-172. Sunk 13 December 1943. Navy Departament, Washington. Final Report, G/Serial 29. April 1944. Disponível em http://www.uboatarchive.net/
[8] DUARTE, p. 267.
[9] Report on the Interrogation of Surbibors from U-172. Sunk 13 December 1943. Navy Departament, Washington. Final Report, G/Serial 29. April 1944. Disponível em http://www.uboatarchive.net/
[10] Ibid.

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terça-feira, 5 de agosto de 2008

Soldado Francisco de Paula: a Artilharia na FEB

O então soldado Francisco de Paula identificação militar nº 1G-192925 embarcava, naquela noite de 30 de junho de 1944, no transporte de tropas General Mann com destino ignorado. Pudera, já que todo o cuidado era pouco a fim de escapar dos tenazes torpedos dos u-boats alemães que circulavam pelo oceano atlântico desde 1942. Francisco, como outros 5.075 homens, era membro da 1ª Divisão Expedicionária da Força Expedicionária Brasileira que embarcava rumo ao teatro de guerra. Francisco não poderia adivinhar que seu rosto e sua função seriam destacados pelo fotógrafo de guerra Pvt. Laurence V. Emery em 29 de setembro de 1944 nesta bela imagem que temos ao lado. É o soldado Francisco de Paula carregando um canhão 105mm com um recado aos alemães: A Cobra está Fumando![1]

Francisco, natural do Rio de Janeiro fazia parte da Artilharia Divisionária que acompanhava o 1º DIE na Itália. A artilharia brasileira era composta de quatro grupos de obuses e armada principalmente com peças de 105mm. A exceção era o 4ª Grupo de Obuses (GO) composto por peças de 155mm. Cada grupo possuía 12 peças, dividido em 3 baterias de quatro canhões cada.[2] A artilharia brasileira era formada por grupos recém criados tanto no estado do Rio de Janeiro quanto em São Paulo durante o ano de 1943. A exceção era o grupo proveniente do Grupo Escola, com base no Rio de Janeiro, já existente.[3] O grupo de Francisco era o 2º GO, o primeiro a embarcar para a Itália e participar das ações na guerra. O comando da Artilharia Divisionária cabia ao Gen. Cordeiro de Farias.

Isso se explica pela necessidade de adequar o Exército Brasileiro as diretrizes norte-americanas tanto de armamento quanto de pessoal. O Exército Brasileiro amargava desde a década de 20 a morosidade da modernização em seus quadros e armamento. Salvo a Missão Francesa, que reformulou o conceito do Ensino Militar durante a década de 20, o Exército Brasileiro era um apanhado de armamento em pequena quantidade e de diversas origens, de falta de pessoal qualificado além de carências estruturais. Era necessário, para se mandar este exército à guerra, um esforço hercúleo a fim de torná-lo operacional.

Para melhorar o desempenho da artilharia, os canhões de 75mm foram substituídos pelos de 105mm e 155mm. Em complemento uma Esquadrilha Aérea para Observação e Regulação de Tiro foi incorporada aos quadros da Artilharia Divisionária.[4] Todas essas modificações exigiam tempo e pessoal treinado efetuando-se, sobretudo, durante o ano de 1943.

E lá estava Francisco aguardando ordem no navio de tropas, ancorado no porto do Rio de Janeiro. Naquela noite o então presidente do Brasil Getúlio Vargas discursava aos combatentes excitados e ao mesmo tempo amedrontados frente ao futuro incerto que vinha de encontro a sua juventude e vitalidade. As palavras de Vargas ecoavam pelo microfone a bordo do navio. E retumbavam no ouvido dos expedicionários: “É sempre uma glória lutar-se pela pátria e por um ideal. O governo e o povo do Brasil vos acompanham em espírito na vossa jornada e vos aguardam cobertos de glorias” 5


O navio de tropas General Mann chegou ao porto de Nápoles no dia 16 de julho. No mesmo dia foi iniciado o desembarque do primeiro contingente da FEB. A tropa se deslocou para o estacionamento de Agnaro, próximo ao subúrbio napolitano de Bagnoli, fazendo parte do trajeto a pé e parte por ferrovia. A partir daí, vários deslocamentos seriam feitos e treinamentos seriam ministrados aos infantes brasileiros até que, em 12 de setembro veio a ordem de batalha para a FEB: deveria deslocar-se para Ospedaleto, uma região ao sul de Pisa e a 50 km de Vada. Assim, em 15 de setembro, especial data da historia militar brasileira, todo o grupamento tático do 1º DIE deveria substituir as tropas americanas na linha Massaciuccoli – Filettole – Vecchiano, no Vale do rio Serchio6. Era a primeira missão na guerra da Força Expedicionária Brasileira.

E Francisco não tardaria, ele mesmo, a participar da guerra. Em 16 de setembro de 1944 às 14h22min a 1ª bateria do 2º GO sob o comando do Capitão Mário Lobato deu o primeiro tiro da artilharia brasileira em terras européias. E dali por diante a artilharia brasileira faria fama frente aos tedescos.

Afirmou Cordeiro de Farias, comandante da Artilharia Divisionária na Itália: “A melhor artilharia que operou na Itália foi a minha e isso foi dito por oficiais americanos e prisioneiros alemães. Quando os americanos queriam fazer uma nova experiência sempre contavam com a minha tropa”.7

O batismo de fogo do 1º DIE comandado pelo Gen. Zenóbio da Costa ocorre no dia 16 de setembro, com a tomada sucessiva das localidades de Massarosa, Borrano e Quieza, que se achavam em poder dos alemães. As ações não tiveram qualquer complicação e a tropa brasileira continuou progredindo. Elas serviram, no entanto, para elevar o moral da tropa brasileira no seu primeiro confronto vitorioso com o inimigo. A 18 de setembro decide o Gen. Zenóbio ocupar a localidade de Camaiore, importante centro de comunicações e abastecimento dos alemães que controlavam todo o vale vizinho.

Não obstante, o próprio Gen. Zenóbio comandou pessoalmente o avanço do 6º R.I sobre Camaiore. Pegos de surpresa, os alemães não ofereceram resistência, abandonando a cidade e a linha Camaiore – La Rena – Fattoria foi ocupada por elementos do 6º R.I. O objetivo da Força Expedicionária Brasileira era a ruptura da área denominada “Linha Gótica”, uma frente de 250 km, do mar Tirreno ao Adriático guarnecida pelos alemães. O ponto forte desta defesa eram os montes altos, sobretudo no vale do Reno, controlados por diversas divisões alemãs e italianas. Reiniciando sua marcha sobre a Linha Gótica, durante os dias 19 e 20 de setembro a tropa avançou sob fogo de morteiros e artilharia. Durante este avanço, a 20 de setembro, capturam-se os primeiros prisioneiros alemães, desertores da 42º divisão de infantaria. A Força Expedicionária Brasileira também sofreu as primeiras baixas, três praças mortos por estilhaços de granadas8.

Na edição nº 7 de 24 de janeiro de 1945 do jornal editado pela FEB chamado Cruzeiro do Sul é Francisco que ilustra a capa. Sua célebre imagem que hoje ilustra este artigo ilustrou há 63 anos atrás o folhetim da FEB que graciosamente dizia: "A NOSSA RESPOSTA: O tedesco, de vez em quando, despacha para as nossas linhas certos folhetos que procuram desvirtuar a nossa luta, dizendo que estamos errados, que não temos motivo para combater a Alemanha, que tudo é obra dos Estados Unidos. Mas nós, via de regra, também despachamos nossas respostas. Aí vai uma: A Cobra Está Fumando.... Será preciso traduzir para o Alemão? Não, essa mensagem quando chegar nas linhas alemãs, já estará traduzida... A cobra já terá acabado de fumar.. O tedesco sabe como é.... "9

Francisco passaria pelo vale do Rio Sercchio e, no vale do Rio Reno, participaria com louvor da tomada de Monte Castelo em fevereiro de 1945. Para esta conquista a excepcional tarefa da artilharia divisionária, comandada pelo Gen. Cordeiro de Farias foi essencial. Entre as 16 e 17 horas a artilharia transformou o cume de Castello em crateras que desnorteavam o inimigo. Assim descreve Joel Silveira, correspondente de guerra brasileiro instalado no posto de comando avançado junto com os oficiais que acompanhavam a ofensiva:

“As encostas de Castello, cessando o fogo de nossa artilharia, se transformaram numa paisagem lunar. O Major Uzeda continua a avançar sob a proteção de nossos tiros e já agora começam a pipocar as metralhadoras dos seus soldados. (...) as 17h50m a voz do Major Franklin vem, forte, pelo rádio: ‘estou no cume de Monte Castello’ e pede fogo de artilharia sobre as posições inimigas além do monte. Castelo é nosso, me diz o Gen. Cordeiro. (...) Os norte americanos só conquistaram seu objetivo noite adentro, quando os brasileiros há muito tinham completado a sua missão e começavam a ocupar, na crista de Monte Castello as privilegiadas trincheiras e as formidáveis casamatas recém abandonadas pelos alemães, que na sua retirada deixaram em mãos dos soldados mais de 80 prisioneiros”.10

Depois de Monte castelo, a artilharia brasileira teria um papel exemplar também na tomada de Montese, em abril de 1945. A partir do dia 14 até o dia 17 os grupos de artilharia trabalharam sem cessar. Estima-se que os alemães tenham mandado para o setor da 1ª DIE mais de três mil e duzentos projéteis de artilharia. Em contrapartida, Francisco e seus colegas devem ter mandado número similar na cabeça dos tedescos. Montese foi uma das mais encarniçadas lutas que as tropas brasileiras enfrentaram. O mais impressionante era a tenacidade dos alemães naqueles dias que, sem saberem, eram os últimos da guerra.

A conquista de Montese pela FEB foi a etapa de maior importância na operação aliada da primavera. Ela contribuiu para a fixação das tropas em uma região de grande importância, obrigaram o inimigo a fazer uso em grande escala de munição e custou muito aos brasileiros: em três dias de luta perderam-se 426 soldados entre mortos e feridos. Foi o episódio mais sangrento suportado pelas forças brasileiras na Itália.11

Os últimos dias na Itália são narrados com a familiaridade de quem prevê seu fim. Assim nos diz o Tenente Gonçalves do 6º RI: “Nos derradeiros dias do mês de abril, tudo levava a crer que a guerra chegaria ao fim naquela sucessão de vilas e cidades ocupadas em meio a pequenas escaramuças e inimigos que se rendiam. O 6º RI junto aos outros dois regimentos do 1º DIE, vinham libertando uma série de localidades com a estrondosa receptividade dos italianos que festejavam o fim da guerra (...). Nas pequenas cidades libertadas pelo 6º RI e outros regimentos, os italianos recebiam os soldados brasileiros de forma delirante. O vinho corria abundantemente em garrafas e mais garrafas (...). Os sinos das igrejas das pequenas cidades eram soados, as viaturas saudadas com palmas e flores.” 12

Com o término da guerra, em 8 de maio de 1945, Francisco retornou ao Brasil em 18 de julho de 1945. Completou um ano e alguns dias em solo Europeu, do qual oito meses foram a serviço direto de sua pátria mãe executando aquilo que fora treinado: libertar da opressão nazista o solo europeu e trazer os louros da vitória para o seu doce e amado Rio de janeiro.

A foto possui ainda em seu verso a inscrição das fotos de imprensa do tempo da guerra. Diz assim:









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[1] Imagem da coleção pessoal de Fernanda Nascimento. Mede aproximadamente 25x20cm.
[2] BONALUME NETO, Ricardo. A nossa Segunda Guerra. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1995. p. 135
[3] MORAES, J.B. Mascarenhas. A FEB pelo seu Comandante. 2°. ed. Rio de Janeiro, 1960. p. 7
[4] Ibid. p.14
5 MORAES, op. cit. P. 25-26
6 Ibid. p 68
7 CAMARGO, Aspásia (org). Diálogos com Cordeiro de Farias. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 2001. p. 268
8 BRAYNER, Marechal Floriano de Lima. A verdade sobre a FEB. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 1968. p. 168
9 O jornal é de propriedade do colecionador B. Zarranz. Imagem e informação cedida por B. Zarranz. Meu muito obrigada.
10 SILVEIRA, Joel. MITKE, Thassilo. A luta dos Pracinhas. 3° ed. Record: Rio de Janeiro, 1983. p. 69
11 MORAES, op. cit,. p. 206
12 GONÇALVES, José. MAXIMIANO, César Campini. Irmãos de Armas. Codex: São Paulo, 2005 p. 207-208