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Memórias do Front: julho 2008

O objetivo deste blog é resgatar, através de artigos, histórias de pessoas que se envolveram no maior conflito da História - A Segunda Guerra Mundial - e que permaneceram anônimas ao longo destes 63 anos. O passo inicial de todo artigo publicado é um item de minha coleção, sobretudo do acervo iconográfico, a qual mantenho em pesquisa e atualização. Os textos originados são inéditos bem como a pesquisa que empreendo sobre cada imagem para elucidar a participação destes indivíduos na Guerra.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

B-17 Liberty Bell: A saga de um Bombardeiro

O B-17 com número de série 42-97849 é entregue a 8ª Força Aérea Americana com base na Inglaterra em 24 de maio de 1944. Imediatamente o avião é deslocado para o 390º Grupo de Bombardeio Pesado, com base nas cercanias da cidade inglesa de Framlingham. O 390º possuía quatro esquadrões: 568º, 569º, 570º e o 571º. O grupo tornou-se operacional em 12 de agosto de 1943 e voou 301 missões até o final da guerra. Entre todos os aviões que fizeram parte desta história está o Liberty Belle, com 64 missões de bombardeio, sendo que 16 delas foram comandadas pelo piloto Clifton H. Brown. O Belle foi imediatamente alocado junto ao 570ª Esquadrão de Bombardeio Pesado.

A primeira missão do Belle foi em dia 5 de junho de 1944. Foi tripulado pelo piloto Ten. Henry H. Dayton e o alvo era a região de Boulogne, na França. Não há dúvidas que esta missão fazia parte do plano aliado de invasão a Europa através das praias francesas da Normandia. Não é difícil imaginar a concentração de tropas por todos os portos da Inglaterra enquanto o Belle partia rumo a sua missão. É a partir de sua segunda missão, em 7 de junho de 1944, que o Ten. Brown irá comandar o Belle até o mês de setembro.[1]


Muitos homens passaram pelo Belle até fevereiro de 1945, quando é afastado do combate; mas foi através do Ten. Brown que sua imagem se imortalizou na fotografia que ilustra este artigo. Tirada em 13 de outubro de 1944 ela mostra o Ten. Brown e parte de sua tripulação na frente do Belle.[2] Por esta época, Brown já havia cumprido 33 missões de combate sem sofrer nenhum arranhão e havia sido dispensado de combater. Sua última missão foi em 2 de outubro de 44 sobre Kessel, na Alemanha, mas não no comando do Belle. Ao lado, nose art do Liberty Belle.

Provavelmente sua missão mais apavorante, aquela que ele guardou na memória o resto da vida, foi a realizada em 9 de setembro de 1944, no comando do Liberty Belle. O alvo deste dia era Dusseldorf, na Alemanha. O alvo era uma fábrica de pequenas armas e acessórios de tanques que distava aproximadamente 5 quilômetros a leste da cidade e empregava 35 mil trabalhadores. Ele ficava em um setor da Alemanha apelidado pelos tripulantes de bombardeio de “Happy Flak Valley” que poderia ser traduzido literalmente como “O Feliz Vale do Flak”. A brincadeira escondia uma pavorosa expectativa: significava que estavam adentrando o setor mais bem guardado da Alemanha, onde uma barragem de artilharia anti-áerea poderia ser composta por mais de 200 canhões.[3]

No briefing daquele dia, 9 de setembro, tudo ocorrera bem. Os pilotos receberam as informações necessárias para a missão: os 12 aviões do 570º esquadrão voariam em na altitude mais baixa, a 25 mil pés. O restante dos esquadrões voaria a 26 mil pés.

A 25 mil pés, por uma razão física, o dano causado pelo FLAK era o mais mortífero possível: existia uma média de 50% de chance de se acertar um avião com quatro baterias em disparo seqüencial. A 28 mil pés essa estatística reduzia ao padrão normal de acerto. E foi um tiro destes, a 25 mil pés, que definiu o destino de 6 bombardeiros B-17 naquele dia.

As 10:33 inicia-se o bombardeio.[4] O B-17 Bundles of Trouble solta suas bombas do compartimento. Inesperadamente, uma das bombas é atingida pelo FLAK e o avião, que carregava cerca de 12 bombas de 500 libras explodiu no ar. Sua explosão foi de tão modo horripilante e grandiosa que atingiu imediatamente 9 aviões próximos que voavam na formação asa com asa. Destes nove aviões, 6 caíram sobre a área do alvo. Outros três foram bastante danificados e conseguiram retornar, de alguma forma. Dos 12 aviões do 570º que decolaram naquela madrugada, apenas 3 não haviam sido danificados.

O piloto do B-17 G.I Wonder, Robert L. Longardner, assim resumiu aquele dia: “Foi terrível. Eu não quero entrar em detalhes porque é muito horrível recontar [e relembrar] novamente. Existiam muitos amigos meus naquelas tripulações. (...) Eu nunca fiquei tão chocado em minha vida, perdendo 55 amigos de uma só vez, era mais do que eu podia suportar. Eu fiquei em transe, chocado por conta da perda e só pensei naquilo muito tempo depois. (...) só com a graça de Deus poderia completar o restante das missões”.[5]

Os três aviões avariados prosseguiram diferentes destinos: um deles, o B-17 Bad Egg, com apenas um motor, conseguiu chegar até Paris duas horas após o incidente; o segundo conseguiu pousar na Bélgica e o terceiro, o B-17 G.I Wonder conseguiu retornar à base com um motor avariado.

O Liberty Belle foi um dos três bombardeiros que não sofreu com aquela explosão. Mas isto não salvou seus tripulantes: o navegador James L. Decker, em sua 33ª e última missão foi ferido por sharpnel, estilhaços das bombas do 88.

Os aviões que caíram naquele dia foram os seguintes: O B-17 número de série 43-37804 com 7 mortos e 2 tripulantes feitos prisioneiros de guerra; O B-17 número de série 42-102594 com 4 mortos e 5 prisioneiros de guerra; o B-17 Avenger II número de série 42-97130, com todos os seus nove tripulantes feitos prisioneiros de guerra; O B-17 Bundles of Trouble, pivô da tragédia quando foi atingido por FLAK com o compartimento de bombas aberto, com todos os seus tripulantes mortos; O B-17 Baby Buggy número de série 42-31854 com 7 mortos e 2 prisioneiros de guerra; [6]


Após essa tragédia, o Belle continuou ativo até fevereiro de 1945, quando foi deslocado do teatro Europeu. Foi vendido como sucata para uma empresa de beneficiamento em junho de 1945 e revendido em 1947 para a empresa de motores Pratt & Whitney. Lá, o Liberty Belle tornou-se um avião experimental, função que desenvolveu até 1967. De B-17 sobrou apenas a lataria. Ele havia sido totalmente modificado em seu interior e por esta época andava com 5 motores, sendo que o mais potente estava instalado no nariz do avião.


Pouco depois o Belle foi então doado para a Associação de História Aeronáutica do estado americano de Connecticut, onde sofreu grande destruição durante a passagem de um tornado em 1979. O Liberty Belle passou por quase 15 anos de restauração e no mês de julho de 2008 completou um tour pela Europa. Hoje é possível agendar uma viagem e curtir, durante 30 minutos, a emoção de voar em um “veterano” de guerra. Ao lado, imagem do Belle completamente restaurado e pronto para voar.


The Liberty Belle Foundation: http://www.libertyfoundation.org/


[1] Informações retiradas do site oficial do grupo 390º: http://www.390th.org/
[2] National Archives USA - NARA. Cópia na coleção de Fernanda Nascimento. Imagem inédita.
[3] Depoimento do piloto Robert L. Longardner piloto do avião G.I Wonder, disponível em http://www.390th.org/warstories/Lamentations.htm
[4] Missing Air Crew Report MACR 8915, Publication Number: M1380, National Archives, USA.
[5] Depoimento do piloto Robert L. Longardner piloto do avião G.I Wonder, disponível em http://www.390th.org/warstories/Lamentations.htm
[6] Missing Air Crew Report MACR 8911, MACR 8916, MACR 8913, MACR 8915, MACR 8912. Publication Number: M1380, National Archives, USA.


VEJA TAMBÉM


>> Rosser I. Bodycomb – Piloto de combate da 15ª Força Aérea.
>> FIGHTIN BITIN: um esquadrão da 8ª Força Aérea Americana
>> A Infantaria na Fortaleza de Brest: A primeira batalha da ofensiva de 41.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Metralhadoras alemãs em ação: MG 34 e MG 42

A foto ao lado mostra dois soldados alemães de infantaria deitados sobre uma cavidade do terreno, apoiando sua metralhadora, com o objetivo de cobrir uma área de possível avanço inimigo.[1] Com a vista desbloqueada por centenas de metros, talvez fossem alvos fáceis por estarem assim, descobertos. Mas certamente até lá muitas vítimas poderiam fazer e muito terror causar a uma possível tentativa de avanço inimigo.

As metralhadoras tornaram-se um objeto inestimável durante a I Guerra Mundial, uma guerra onde a mobilidade dos exércitos não existia e a metralhadora servia de modo eficaz para barrar o avanço das colunas de infantes que irrompiam em direção ao inimigo. Durante a II Guerra Mundial esta arma não logrou a mesma importância que adquiriu no conflito anterior, mas provou o seu valor sempre que a batalha se tornava estática, exigindo o emprego de posições fixas. Aqui se pode então destacar a ação de duas metralhadoras em especial, utilizadas pela Wehrmacht: a MG 34 e MG 42. Estas metralhadoras tiveram uma produção baixa até 1939, caso da MG 34. Com o início do conflito, seus estoques aumentaram sensivelmente, chegando aos milhares ao final da guerra.

A Alemanha saiu derrotada da I Guerra Mundial não apenas no sentido militar: também saiu econômica e socialmente. A derrota gerou um sério sentimento aos alemães, mas não foi a única coisa: o Tratado de Versalhes acabou, definitivamente, com qualquer pretensão de manter um exército forte e uma industria militar. Sem estoques da guerra e com sérias restrições, só sobrou a Alemanha a pesquisa, em busca de melhores armamentos para dotar suas Forças Armadas quando fosse possível.

Neste sentido, surge na década de 30 o projeto de uma metralhadora simples que pudesse ser produzida facilmente em larga escala. Foi considerado um projeto perfeito, porém rejeitado. Em 1934 novo projeto é submetido a Wehrmacht e aprovado, com inicio da produção em 1936. Nascia assim a lenda da Maschinergewehr 1934 ou MG 1934. A cadencia de tiros desta arma estava na base de 800 a 900 cartuchos por minuto. Sua guarnição era normalmente composta de dois homens – um municiador e um atirador. Cada cinta de munição possuía 50 cartuchos e o cano da metralhadora poderia ser trocado com facilidade, em caso de manutenção.

A MG 34 foi a primeira metralhadora de uso geral. Os alemães tiraram uma séria lição dos campos da I Guerra: perceberam a metralhadora como principal arma da infantaria. Com um alcance eficaz de, no mínimo 600m, os alemães perceberam que, bem dispostas um grupo de sete metralhadoras distantes 60m entre si e podendo varrer um arco de 150º poderiam deter o avanço de um regimento.[2] É bem compreensível, portanto, a necessidade de reforçar esta arma. Entre o Exército alemão desenvolveu-se ainda a concepção de que os fuzileiros deveriam apoiar o trabalho efetuado pela metralhadora, tendo ela o trabalho principal.[3] Abaixo, imagem da MG 34.


A metralhadora pesava quase 12kg e o bipé e as cintas de munição acrescentavam mais 2kg ao seu peso. Apesar de ser uma ótima arma, a MG 34 tinha um inconveniente: a poeira, a lama e a neve eram seus grandes inimigos. Na tentativa de aplacar este problema, criou-se a MG 42, a partir de 1941. O grande mérito da MG 42 era disparar mais de 1.200 tiros, somente em rajada. Ela tornou-se temida por todos os infantes, principalmente pelo barulho inconfundível que fazia quando em trabalho.

A MG 42 deveria ter substituído totalmente a MG 34. Mas isso não foi possível e as duas armas passaram a conviver em todos os teatros de guerra. Ao lado, MG 42.

Nas tropas alemãs estacionadas na Itália a média era de uma metralhadora MG 42 para cada grupo de 10 homens do Exército alemão. Como indica Maximiano, a MG 42 era versátil e de alta cadência.[4] Comparando-se com a metralhadora Browning .30 americana que disparava cerca de 650 tiros por minuto, as metralhadoras alemãs MG 34 e 42 chegavam aos 1200 disparos por minuto.


O sargento Leonercio Soares da Força Expedicionária Brasileira em sua primeira noite no front, ao final do mês de novembro de 1944, registrou a imagem que viu, proporcionada pelo fogo das metralhadoras alemãs: “A cada clarão de very-light, seguiam-se os tiros e o repicar das metralhadoras em rajadas tão rápidas, nas quais os estampidos se uniam em seqüência, perdendo-se num só gargalhar, serenamente tétrico”.[5] Diz-se que seria por conta deste ‘repicar’ ao qual o sargento faz alusão que teria surgido denominação de Lurdinha a metralhadora MG 42 pela Força Expedicionária Brasileira: o som se assemelharia a uma máquina de costura operada então por uma moça de nome Lurdinha. Independente da origem da alcunha a metralhadora fazia seu trabalho tenazmente no front. Uma saraivada de tiros bem dada sobre um infante poderia despedaçá-lo facilmente.

Mas as metralhadoras alemãs não causaram furor e estragos somente no front brasileiro naquele ano de 1944. Elas estavam presentes também durante o desembarque aliado na Normandia, em 6 de junho de 1944. O panorama neste dia foi descrito como aterrador por muitos veteranos que lá estiveram. As metralhadoras varriam a praia de ponta a ponta até onde seu alcance proporcionava. Houve mesmo naquele dia, em um bunker, um soldado que operou uma MG 42 até o final do dia, disparando mais de 12 mil cartuchos.

Em 1994 Stephen Ambrose fez uma pequena menção a este soldado em seu livro O Dia D.[6] Alguns anos mais tarde este alemão escreveu suas memórias onde descreveu sua sensação ao utilizar a metralhadora sobre as incessantes levas de desembarque na praia. Seu nome era Hein Severloh. Disse ele: “Eu via a água espirrar para todo lado, onde minha metralhadora atingia, e via os soldados se atirarem no chão pelas redondezas. Logo eu vi os primeiros corpos balançando nas ondas da maré alta. Em pouco tempo, todos os americanos lá embaixo tinha sido atingidos”.[7]

Naquele mesmo dia o sargento Thomas Valence da 116ª divisão de infantaria americana teve seu fêmur na coxa esquerda quebrado por uma bala que atingiu sua perna. Levou ainda mais dois tiros na perna, além de ter a mochila furada por vários tiros e a jugular do capacete cortada. Ao seu lado “os corpos dos meus camaradas estavam sendo arrastados pelas águas e eu era o único sobrevivente no meio de tantos amigos, todos eles mortos, em muitos casos cruelmente feitos em pedaços”.[8]

Mas houve também muitos episódios de sucesso na luta contra as metralhadoras. O soldado brasileiro Vicente Gratagliano, em uma ação heróica em 5 de março de 1945, em meio ao fogo de artilharia inimigo alcançou a retaguarda de uma metralhadora em posição que atrasava o percurso de seu grupo de combate. Com seu fuzil metralhadora BAR disparou cerca de 60 tiros sobre a posição, inutilizando-a. Por esta ação foi condecorado com a Cruz de Combate de Primeira Classe.[9]

Depois da II Guerra Mundial a MG 42 permaneceu em uso nas Forças Armadas da Alemanha Ocidental. Passou por pequenas modificações, como a universalização do calibre ao padrão europeu.



[1] Imagem da coleção pessoal de Fernanda Nascimento.
[2] CASTRO, Adler Homero. BITTENCOURT, João neves. Armas. Ferramentas da Paz e da Guerra. BIBLIEX: Rio de Janeiro, 1991. p. 113
[3] WEEKS, John. Armas da Infantaria. RENNES: Rio de Janeiro, 1974. p. 135
[4] MAXIMIANO, César Campiani. Irmãos de Armas. CODEX: São Paulo, 2005. p. 111
[5] SOARES, Leonercio. Verdades e Vergonhas da Força Expedicionária Brasileira. Edição do Autor, 1984. p. 50
[6] AMBORSE, Stephen. O Dia D. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 1997. p. 397.
[7] Em 2000 este soldado lançou um livro de memórias, onde enfoca principalmente sua traumática experiência no dia D. Em alemão, o título do livro é WN 62 - Erinnerungen an Omaha Beach.
[8] AMBROSE, op. cit. p. 400
[9] MAXIMIANO, op. cit. p. 193-198.

VEJA TAMBÉM

>> Alfred Veith: Piloto da Luftwaffe
>> Hauptman Koch e o assalto a Eben-Emael
>> Raid sobre Schweinfurt: A saga da tripulação do Ten. Wheeler – PARTE 1
>> Raid sobre Schweinfurt: A saga da tripulação do Ten. Wheeler – PARTE 2

domingo, 13 de julho de 2008

Hauptman Koch e o assalto a Eben-Emael

Ás 5:25 do dia 10 de maio de 1940 tropas aerotransportadas alemãs invadiam o interior da Fortaleza de Eben Emael, na Bélgica, desfechando um golpe extraordinário que culminaria, com seu sucesso, na promoção de vários soldados que dela participaram e na citação de muitos para o recebimento da Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro por Hitler, como forma de consideração ao ataque bem sucedido a este ponto fortificado. O ataque entraria ainda para a história como uma operação arrojada que, mais uma vez, deixava os exércitos aliados boquiabertos em relação às ações das Forças Armadas alemãs durante os períodos iniciais da II Guerra Mundial.

A invasão da Bélgica havia sido precedida por meses de preparação. Desde a tomada da Polônia a Blitzkrieg de Hitler havia parado e seus planos voltavam-se para o Ocidente, sobretudo a França. O período que se seguiu de novembro de 1939 a maio de 1940 ficou conhecido como a “Guerra de Mentira” pois existia o estado de guerra entre a Alemanha e os países aliados, mas não existia ação. As tropas francesas estavam nas fronteiras desde o inicio da ofensiva alemã contra a Polônia em mobilização constante a espera do grande ataque. Mas ele nunca vinha e assim o inverno se passou.

Um dos grandes motivos para o atraso no ataque se deu por culpa de dois altos oficiais da Luftwaffe. Em 10 de janeiro os majores Hönmanns e Reiberger decolaram de Münster em direção á Colônia a bordo de um Messerschimitt 108 com os planos de invasão da França do grupo de Exércitos B. Devido ao mau tempo, Hönmanns perdeu o senso de direção e decidiu aterrar algumas horas após a decolagem. Quando caíram, um camponês veio encontrá-los falando francês. Os dois oficiais haviam aterrado na Bélgica e imediatamente foram presos por um grupo de soldados da fronteira. Os planos caíram nas mãos dos aliados e em 24 horas estavam já traduzidos do alemão para o francês. O resultado foi a exoneração de muitos comandantes das unidades as quais os oficiais faziam parte. Hitler ficou extremamente consternado com o ocorrido e lançou sua raiva em direção a Luftwaffe de Herman Göring.

Os planos foram refeitos. E não tardariam a ser postos em prática. Seu grande trunfo seria a utilização, pela primeira vez na ofensiva alemã, das forças aerotransportadas na Luftwaffe. Os pára-quedistas estavam sob o comando do general Kurt Student e faziam parte do Fliegerdivision 7. Student havia sido pioneiro no conceito de tropas aerotransportadas e conseguiu, desde 1936, vencer o preconceito de seus superiores em relação a utilização e importância que estas tropas poderiam ter em combate. Student também conseguiu resolver o problema da falta de equipamento pesado utilizando planadores para transportar material de artilharia. No inicio da guerra, em 1939, existia uma tropa de elite de pára-quedistas alemães (Fallschirmjäger), sob controle da Luftwaffe, que fez fama durante os primeiros anos da guerra e a manteria com honra e dignidade até seu final, em 1945.



Eben Emael era uma fortaleza construída entre 1932 e 1935, inspirada no conceito tático francês, o mesmo que inspirou a construção da ineficiente Linha Maginot. Ela ficava localizada em um ponto alto do canal Alberto, na Bélgica e sua função era defender as travessias do canal incluindo quatro pontes: a ponte de Canne, de Lanaye, as pontes de Vroenhaven e Veltwezelt, além das estradas que iam em direção a Maastrich. Para essa missão, as paredes da fortaleza eram de concreto armado bastante espesso e seus muros circundavam ma área de quase 1km de extensão.[1] De suas seis fachadas, a maior possuía uma parede com 40m de altura e a menor com 4,5m de altura. Havia trincheiras e dispositivos de inundação na fachada norte-oeste. Além disso, ela guardava no alto várias posições de canhões que cobriam todas as direções. Eram 8 peças de 75mm e 2 peças d 120mm protegidas por uma cúpula de aço para o caso de bombardeios.[2]

Do lado de fora, existiam algumas posições de metralhadoras, canhões leves e refletores. Sua guarnição era composta por 1.200 infantes e artilheiros. Pela lógica, imaginava-se que um assalto frontal a fortaleza culminaria em seu sítio, dada a dificuldade de atravessar suas defesas. Para isso era dotada de munição e suprimentos para dois meses, além de produzir sua própria energia elétrica. Enfim, Eben-Emael era uma fortaleza inexpugnável, levando-se em conta as tradicionais táticas militares.

Hitler e Student haviam planejado o assalto à fortaleza. Devido as suas características só seria possível efetuar um ataque de fora para dentro, isto é, diretamente no coração da fortaleza. A idéia mais arrojada veio a seguir: os planadores haveriam de aterrar dentro da fortaleza a fim de neutralizar os canhões que tinham todo o perímetro exterior a seu alcance. As demais unidades deveriam impedir que as pontes fossem destruídas, ocupando-as.

Neste plano arrojado, alguns homens teriam missões importantíssimas. O hauptman Walter Koch era líder da companhia responsável pela tomada do forte e das pontes. Ele dividiu sabiamente seu grupo em quatro segmentos que deveriam, cada um, tomar uma ponte respectiva. Os grupos foram assim divididos: de codinome Eisen, sob comando do segundo tenente Schachter deveria se apoderar da pone Canne; de codinome Stahl sob o comando do tenente Aitman deveria tomar a ponte de Veltwezelt; de codinome Konkret sob comando do segundo-tenente Schacht, ocuparia a ponte de concreto em Vroenhaven; e o último grupo, de codinome Granit deveria assaltar a fortaleza. Era comandada pelo tenente Rudolf Witzig, um engenheiro de 25 anos. Sua missão: neutralizar os canhões para garantir a posse das pontes pelos grupos no exterior da fortaleza.





O ataque se inicia por volta das 5:25 da manhã do dia 10 de maio quando os planadores aterram.[3] Os belgas defensores da fortaleza foram pegos de surpresa. Os tiros incessantes e a confusão reinante ajudaram a deixar o ambiente mais caótico dentro e fora da fortaleza. Apesar de estar de plantão desde as três horas da manha devido a movimentação na fronteira alemã, as forças defensoras foram totalmente pegas de surpresa. Além disso, a fortaleza não estava com sua capacidade defensiva total. Havia, dos 1.200 homens, pouco mais da metade de serviço. Durante os primeiros minutos de aterragem os planadores foram confundidos com aviões franceses ou apenas aviões de reconhecimento. Em pouco tempo esta confusão se mostrou fatal ao futuro da fortaleza.



Durante incessantes 20 minutos o grupo Granit lutou e conseguiu dar cabo de todos os canhões dispostos sobre aa fortaleza. O comandante do grupo, Tenente Witzig não estava participando do assalto: seu planador soltou-se do avião de transporte Ju-52 antes de chegar ao alvo. O comando passou então ao sargento Heimut Weizel que assumiu o comando de forma magnífica.

Enquanto a batalha se desenvolvia do lado de dentro da fortaleza, as pontes iam sendo tomadas. Apenas a ponte Canne foi destruída pelos seus defensores. As demais pontes foram conquistadas intactas. Por volta das 8:30 da manhã um planador solitário assomou o horizonte: era o tenente Witzig que conseguiu se reunir a seus homens. Durante a tarde bombardeiros de mergulho Stuka bombardearam todo o setor para apoiar o ataque das forças pára-quedistas. Ao final do dias as principais defesas da fortaleza de Eben Emael estavam reduzidos a escombros.

A noite chegou e esperava-se um contra ataque belga. Mas nada ocorreu. Pela manha do dia seguinte, 11 de maio, um grupo de combatentes alemães do 51º Batalhão de engenharia estabeleceu contato com Witzig, chegando ao forte após a travessia do canal que tinha cerca de 60m. Algum tempo depois mais soldados alemães chegaram para substituir as tropas Fallschirmjäger. Ao final da manhã o major belga Jottrand, comandante da fortaleza, se rendeu.

A operação foi um sucesso. Da força atacante apenas 6 soldados alemães morreram e outros 15 se feriram. Do lado belga, pelo menos 23 soldados foram mortos cerca de 600 foram feitos prisioneiros.

Pelo comando da operação, o capitão Walter Koch recebeu a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro. É ele o personagem que ilustra este artigo. A imagem acima é, na verdade, um postal desenhado por Wolfgang Willrich.[4] Willrich era um dos 200 artistas contratados pelas forças armadas alemãs para trabalhar no setor de propaganda. Ele desenvolveu uma série de cartões postais com vários motivos, incluindo os heróis do ataque a Eben Emael. No mesmo dia pelas ações o tenente Egon Delica, também do grupo do tenente Rudolf Witzig que atacou a fortaleza internamente recebeu a Cruz de Cavaleiro. E por último, o próprio Witzg foi condecorado pelo retorno de comando e obstinação na tomada da fortaleza.



[1] FARRAR-HOCKLEY, A. H. Pára-quedistas Alemães: a supertropa. RENNES: Rio de janeiro, 1974. p. 64
[2] CARTIER, Raymond. A Segunda Guerra Mundial (1939-1942) Primeiro Volume. PRIMOR: Rio de Janeiro, 1976. p. 76
[3] FARRAR-HOCKLEY, A. H. op. Cit. P. 69
[4] Postal da coleção particular de Fernanda Nascimento.