Alfred Veith nasceu em 25 de abril de 1918 em Pomster/Adenau e viu toda a destruição e pobreza que seu país, a poderosa Alemanha, passava nos anos seguintes após a I Guerra Mundial. [2] Humilhada pela derrota na guerra e pelas condições militares, econômicas e financeiras impostas pelos aliados, a Alemanha iria renascer na década de 1930. Com a chegada de Hitler ao poder e o fortalecimento das Forças Armadas, milhares de jovens se sentiram compelidos a servir o país e, entre as opções, a arma aérea parecia bastante interessante. Devido as diversas imposições do tratado de Versalhes, a Luftwaffe só se tornou uma Força Aérea depois da ascensão de Hitler ao poder.
Em agosto de 1939 Adolf Hitler considerava suas Forças Armadas o melhor exemplo de capacidade e poder militar do mundo. Seus esforços haviam feito, até então, o território da Alemanha aumentar em apenas dois anos com a anexação da Áustria, da Tchecoslováquia e de territórios esparsos onde a maioria dos habitantes era alemã. Tudo isso sem dar um tiro sequer. Mas as anexações pacíficas haviam terminado: agora sua mais poderosa força armada iria iniciar uma série de ataques que levariam o mundo a uma guerra com quase seis anos de duração.
Assim, a Luftwaffe entrava na Segunda Guerra Mundial com cerca de 4.300 aviões entre caças, bombardeiros e transporte de tropas. Mas os números podem ser enganadores: apesar do pretenso poderio, a pequena campanha da Polônia e, mais tarde, a batalha da Inglaterra revelaram os problemas e as falhas desta arma poderosa.
Alfred Veith provavelmente entrou para a Luftwaffe antes do inicio da guerra. Em setembro de 1939 já estava alocado junto ao Kampfgeschwader (Jäger) 55 como piloto. Esta era uma unidade de bombardeiros que operou principalmente aviões bombardeiro Heinkel He 111 e que serviu até o final da guerra. Muitos de seus oficiais foram agraciados com a Cruz de Cavaleiro e nos anos posteriores à guerra a historiografia notabilizou a unidade como uma das mais famosas unidades de bombardeio da Luftwaffe.
A estrutura da Luftwaffe era bem similar a estrutura pré-1918 da Força Aérea Imperial: o esquadrão (staffel), unidade básica, era composto de dez a doze aviões. Três esquadrões constituíam uma esquadrilha ou Gruppe e três ou mais Gruppen formavam um Geschwader, com aproximadamente 100 aviões de mesmo tipo.[3] Durante toda a guerra os modelos Dornier Do 17, Heinkel He 111 e Junkers Ju 88 formaram a base da Luftwaffe que nunca possuiu bombardeiros quadrimotores em larga escala e a indústria alemã nunca se envolveu com a produção em quantidade destes aviões. A grande ênfase à Luftwaffe foi dada em relação ao apoio que esta daria ao avanço do exército e por isso nunca incorporou uma doutrina de bombardeio estratégico.
Veith era piloto de combate do avião bombardeiro He 111. O He-111 era fácil de voar e relativamente rápido, em comparação com outros aviões. Mas o desenvolvimento de aviões bombardeiro ao final da década de 30 o deixou um pouco defasado, sobretudo em matéria de autodefesa e capacidade de carregamento de bombas. Nenhuma bomba com peso superior a 250kg poderia ser carregada internamente pelo He-111.
O He 111 carregava uma tripulação de cinco homens: piloto, navegador-bombardeador e três artilheiros. Sua velocidade máxima era de 400km/h e sua capacidade de carregamento de bombas não excedia 2 mil quilos.
Em uma típica missão de bombardeio o alvo era assinalado por um telescópio que era movido por um motor elétrico. Quando o bombardeador assinalava o alvo as informações de vôo do avião eram passadas a um computador que havia sido programado previamente com as informações sobre as bombas que carregava e a altitude que elas deveriam ser lançadas. O computador fazia correções de vôo que eram dispostas para o piloto. Quando o alvo era aproximado o telescópio se ajustava ao angulo de lançamento previsto pelo computador e um circuito elétrico lançava as bombas automaticamente. Cerca de 40 segundos eram necessários para esta operação. No entanto, ela servia apenas para ataques de alta altitude. Vôos mais baixos tinham o procedimento realizado de forma manual.
O KG55, unidade a qual Veith estava ligado, participou de todas as campanhas da II Guerra. Viu ação nos primeiros dias de invasão a Polônia e participou ativamente da invasão à França. Em 2 de junho de 1940 Veith é ferido em uma missão durante as operações de ataque à França.[4]
Posteriormente, durante a Batalha da Inglaterra (estacionado na França) o KG55 perdeu 73 aviões. Mas a perda não era apenas material: experientes tripulações dia após dia caiam sobre território inimigo, diminuindo a força combativa do grupo. Foi durante a batalha da Inglaterra que a Luftwaffe cometeu seu maior erro: sua estrutura operacional e administrativa nunca foi voltada ao bombardeio estratégico. O preço pago foi bastante alto: a perda de pilotos e tripulações experientes, além de um alto número de aparelhos condenou a atuação da força nos anos seguintes da guerra.
Em 1941 o KG55 dá amplo apoio a operação Barbarossa operando, sobretudo sobre a Ucrânia. A unidade permaneceu no leste até o inverno de 1941 quando foi transferida de volta a França para descansar na retaguarda, até abril de 1942. É durante o ano de 1942 que Veith recebe suas primeira distinção: Ele foi condecorado com a Cruz Germânica em Ouro em 16.07.1942 como Leutnant junto ao 6./KG 55. Durante este período, sua unidade faz missões de apoio a ofensiva oriental, atacando aeroportos e instalações de apoio do Exército Vermelho.
A partir daí a unidade serviria apenas ao front oriental. Provavelmente é durante o ano de 1942 ou 1943 que Alfred Veith comemora a realização de sua 200ª missão de combate. A comemoração teve direito a coroa de flores e champanhe. As imagens nos revelam isso, após a chegada da tripulação em terra.[5]
A façanha é inconcebível aos pilotos aliados: enquanto um piloto da Força Aérea americana voava entre 25 a 35 missões de combate para receber sua dispensa honrosa, um piloto da Luftwaffe voava até a exaustão. Por outro lado, suas chances de sobrevivência eram um pouco maiores: enquanto as investidas sobre território inimigo eram altamente custosas às tripulações aliadas e, levando-se em conta que metade dos aviadores americanos não chegou a completar a quota de missões de combate, Veith comemorava um feito comum a muitos dos aviadores alemães que ainda estavam vivos nos anos finais da guerra.
Em outubro de 1944, quando recebe a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro, Alfed Veith carregava a marca da destruição: 24 aviões destruídos no solo, 16 tanques de guerra em operações de apoio e 27 locomotivas e vagões de trem diversos além de quase 400 missões de combate.
A unidade a qual Veith estava ligado passou por uma reestruturação ao final da guerra. O He 111 parou de ser produzido em meados de 1944 e as unidades que operavam com ele não mais receberam reposições. A maior parte delas, portanto, foi sendo aos poucos transformadas em unidades de caças para a defesa do Reich. Em 4 de janeiro de 1945 Veith fica gravemente ferido ao colidir com outro avião durante um treinamento próximo a Regensburg, em um Bf 109.[6] Possivelmente ele estava treinando para se tornar um piloto de caças. Alguns dias antes ele havia sido promovido a Hauptmann (equivalente a capitão).
Ao final da guerra seu curriculum contava com quase 400 missões de combate. Entretanto, o número exato de missões é desconhecido.
Com a estruturação da Alemanha nos pós-guerra e sua conseqüente divisão, Veith se incorpora a Bundesluftwaffe, a Força Aérea da Alemanha Ocidental. Em serviço até a década de 1970, agora Alfred Veith é Oberst Veith (Coronel) e se aposentará neste posto.
[1] Foto Inédita da coleção pessoal de Fernanda Nascimento
[2] Agradeço a Douglas A. Jr. que me forneceu parte das informações que estão disponíveis neste artigo através do contato com o trabalho desenvolvido por Larry deZeng ao coletar informações de mais de 23 mil oficiais da Luftwaffe em trabalho de pesquisa ainda não publicado.
[3] KILLEN, John. A História da Luftwaffe. Record: Rio de Janeiro, 1976. p. 100.
[4] http://www.btinternet.com/~air_research/kg55loss.pdf
[5] Foto Inédita da coleção pessoal de Fernanda Nascimento
[6] http://www.btinternet.com/~air_research/kg55loss.pdf
6 comentários:
Fernanda,
Impressionante o curriculum desse aviador. O fato de ter mais de 400 missões de combate dá uma idéia da destreza e competência do Alfred Veith, além de sua grande sorte de escapar dos bombardeios aéreos. Parabéns pelo artigo.
Gustavo Lima
Pois é Gustavo! É realmente uma façanha inacreditável. E ferido duas vezes ainda continuou na Força Aérea após a Guerra. Imagine o que ele não deveria ter de histórias para contar! Obrigada pela visita! Um abraço!
Gostaria de parabeniza-la pela qualidade do blog, citando suas fontes sempre (o que é essencial para qualquer estudo sério). Continue assim!
Oi,
meu pai, falecido em abril de 2006 foi piloto de Ju 88, Condor 200, He 111, DO 17, Arado 234 entre outros. Pelo que ele me contava de suas acoes (esteve um bom tempo estacionado em Lorient, Participou de acoes na Russia, Grécia e Itália. Foi abatido 3 vezes e por 2 vezes caiu por pane técnica dá para se ter uma idéia o que esses pilotos passavam!
Excelente blog, parabéns
Karl Heinz
Muito interesante seu artigo, vale ainda dizer que os alemães carecian de um avião maior(quadrimtor) e pensar que este avião foi proposto em 1935 por Wllie Meserchmmitt ao então diretor de material(hans jeschonheck)e foi negado por Hitler.Estes aviadores de bombadeiro foram verdadeiros titans lutando com armas obsoletas e sem a devida proteção,se comparado as B17 americanas estes H111, pareciam feitos de papel, só para se ter uma ideia, eram necessários cerca de 20 impactos diretos de projeteis de canhão de 30mm para se derrubar uma B17, e apenas uns poucos tiros de .50 para se derrubar os He111. Os sptfire viraram lenda foi justamente lutando contra estes aviões, se a alemha possuisse um avião quadrimotor de longo alcance em 1940 e bem provavel que tivesse vencido a guerra.
Fui piloto da luftwaffe durante a guerra civil espanhola pela legiao condor e depois na propria luftwaffe na campanha da frança, paises baixos, na batalha da inglaterra, sendo transferido para o fronte russo, sempre pilotando o bf 109, depois me 109, fw 190 e na defesa do reich com o me 262. Depois da guerra e de dois anos sob custodia dos americanos voei comercial e retornei para a nova força aerea. Pilotei o sabre e fui escolhido para pilotar em testes o f-104. Faleci em 1959. É o que me lembro e de alguns poucos detalhes, como ter nascido na região do tirol austríaco, perto de innsbruck. Hoje me chamo hamilton e meu e-mail é hamiltonfsilvermann@hotmail.com
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