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Memórias do Front: Rosser I. Bodycomb – Piloto de combate da 15ª Força Aérea.

O objetivo deste blog é resgatar, através de artigos, histórias de pessoas que se envolveram no maior conflito da História - A Segunda Guerra Mundial - e que permaneceram anônimas ao longo destes 63 anos. O passo inicial de todo artigo publicado é um item de minha coleção, sobretudo do acervo iconográfico, a qual mantenho em pesquisa e atualização. Os textos originados são inéditos bem como a pesquisa que empreendo sobre cada imagem para elucidar a participação destes indivíduos na Guerra.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Rosser I. Bodycomb – Piloto de combate da 15ª Força Aérea.

O briefing havia ocorrido normalmente. O alvo naquele dia, 16 de outubro de 1944, era a refinaria de óleo Vosendorf, localizada a 9 km de Viena, no subúrbio de Vosendorf. A refinaria era responsável pela produção de 200 toneladas de gasolina por mês e, dada sua importância, era defendida por aproximadamente 315 canhões antiaéreos, reportados pelas recentes imagens aéreas do alvo. A hora H estabelecida para o bombardeio do alvo era às 13:00. Instruções adicionais sobre a fuga, em caso de queda em território inimigo, foram passadas a todos os tripulantes. Os territórios da Eslováquia e da Iugoslávia possuíam um forte grupo de partisans e estes deveriam ser procurados no momento da queda, sobretudo na região de Sisak.[1]

Estas foram as instruções gerais recebidas pelas tripulações do 726º Esquadrão de Bombardeio, 451º Grupo de Bombardeio Pesado estabelecido em Castellucio, Itália, em outubro de 1944. Entre as tripulações deste esquadrão estava a tripulação do piloto 1º Tenente Rosser I. Bodycomb. Até este momento, o Ten Bodycomb acumulava quase 900 horas de vôo em aviões bombardeiro B-24. Ao lado a foto do Ten Bodycomb com suas insígnias de piloto no peito.

Como muitos, o Ten Bodycomb havia se alistado ainda em 1942, poucos meses após a entrada dos EUA na guerra, ocorrida depois do ataque a Pearl Harbor.[2] Escolhendo como arma de serviço a Força Aérea, após severos treinamentos e provas, Rosser I. Bodycomb ganha suas asas de piloto e a graduação de Tenente em 26 de junho de 1943. Inicia-se então uma série de treinos de combate no próprio B-24, que irão durar até os primeiros meses de 1944.[3] Depois de um período de quase dois anos de treinamento, o Ten Bodycomb está pronto para atravessar o Atlântico e cumprir sua missão dentro da II Guerra Mundial: levar a guerra ao quintal da Alemanha, afetando seu esforço de guerra e encurtando o conflito para que todos aqueles meninos que agora enfrentavam a tirania nazista pudessem retornar a salvo para casa.

Designado para o 726º Esquadrão de Bombardeio, o Ten Bodycomb agora estava na Itália, nas cercanias de uma cidade chamada Castelluccio. Este esquadrão estava ligado a 15ª Força Aérea, cuja sede era na Itália. A 15ª Força Aérea foi criada em 1 de novembro de 1943 em conseqüência do esforço aliado para a liquidação da Alemanha através da política do bombardeio estratégico. A 15ª seria responsável pelo fechamento do circulo ao território alemão que compreendia ainda a participação da 8ª e 9ª Força Aérea estabelecidas na Inglaterra e a 12ª também na Itália.

Quando totalmente estruturada, no início de 1944, a 15ª Força Aérea possuía 21 grupos de bombardeio pesado – 15 equipados com B-24 e 6 equipados com B-17. Estes grupos possuíam um total de 1427 bombardeiros pesados. Contava ainda com 4 grupos de bombardeiros médios que operavam aviões B-25 e B-26. Era um total de 1810 tripulações de combate que eram supridas por mais de 62 mil homens em terra.[4]

O mês de outubro havia sido relativamente calmo para o 726º Esquadrão de Bombardeio. Durante este mês 13 missões de bombardeio de alvos inimigos foram realizadas. Destas, aproximadamente 8 foram fracassadas em relação ao alvo primário por conta do mau tempo sobre o alvo. Além disso, o esquadrão também pode fornecer suporte aéreo ao assalto do 5º Exército americano em Bolonha. O 451º Grupo de Bombardeio, ao qual o Esquadrão estava ligado, recebeu 145 novos oficiais e 225 graduados para repor as perdas e transferências dos meses de agosto-setembro. Estes novos homens perfaziam cerca de 30 novas tripulações a serem treinadas e postas em combate em poucos dias.[5]

Naquele 16 de outubro, após receber as instruções, a tripulação do Ten Bodycomb se reúne em torno do B-24 J 44-41198 para os últimos preparativos. Dentro de alguns minutos estariam preparados para a decolagem em direção a fábrica de combustível Vosendorf em Viena. A tripulação era composta pelo piloto Ten Bodycomb, pelo co-ploto Ten Alva S. Cooper, pelos tenentes navegador Sidney Grapey e bombardeador Raymond L. Barret, além dos sargentos Albert Duecaster, K. C. Collier, Curtis Hall, Coy Buford, Manuel Weinstein, Spencer Lowe e P. B. Haslett. A imagem ao lado traz, provavelmente, o rosto destes jovens em um límpido dia de sol em Castelluccio. O B-24 da imagem é o mesmo em que a tripulação partirá em 16 de outubro de 1944.[6]



Ao receber a permissão para decolagem, os pilotos iniciam a corrida do B-24 pela pista, aproximadamente a 80km/h. Ao acionar os manches para obter potência total, um dos motores repentinamente perde a força. Os pilotos tentam novamente recuperar o esforço e acionam a força total para o motor número 4. Mas este insiste em falhar. A súbita mudança de potência em um dos motores deixa o avião completamente fora de controle. Os poucos segundos em que o avião faz um S sob a pista são suficientes para estourar um dos pneus e danificar o trem de pouso. Neste momento os motores da esquerda entram em colapso e imediatamente o avião é brecado e os motores desligados.[7]

Todo o processo não durou mais que alguns segundos. A experiência e perícia dos pilotos impediu que algo mais grave acontecesse e nenhum membro da tripulação saiu ferido. Neste dia, toda a tripulação do Ten Bodycomb ficou em terra, aguardando a volta dos colegas, ao entardecer.

Mas nem por isso a saga do Tenente e sua tripulação estava completa. Bodycomb contava então com 25 anos de idade e a média geral de sua tripulação era um pouco menos que isso. Já havia sido condecorado com a Cruz de Aviação (Distinguished Flying Cross) e a Medalha de Aviação (Air Medal) por seu trabalho junto ao 726º Esquadrão. Além disso, era o líder do Esquadrão na formação dos bombardeiros no céu. Isso significava que a ordem de bombardeio de um alvo partiria de seu avião: ao sinal do bombardeador do avião de Bodycomb todos os outros aviões da formação iriam soltar suas bombas sobre o alvo identificado.

Nos dias subseqüentes Bodycomb e sua tripulação participaram de outras missões que incluíram alvos na Itália, Alemanha e Ioguslávia. Em 1 de novembro de 1944, pilotando o B-24 Bad Penny 42-51321, em missão novamente sobre Viena, o avião pilotado por Bodycomb é atingido pela artilharia anti-aérea. Nesta missão o Bad Penny era o líder do esquadrão. Ao lado, imagem da nose art do avião Bad Penny.

Iniciando a cerca de 5 minutos do alvo, a artilharia antiaérea – ou FLAK, diminutivo do nome em alemão - foi a responsável até o final da guerra pelas perdas dos aviões aliados de bombardeio. E era o FLAK que agora iria decidir o futuro da tripulação do Bad Penny. Ao final do conflito, com uma Luftwaffe quase inexistente nos céus, era o FLAK que mais apavorava os aviadores. Os alvos sobre a Áustria e a Alemanha, mesmo no final de 44 e em 45, ainda eram bem guardados pelas defesas antiaéreas.

Após soltar as bombas sobre o alvo – um depósito de peças e material de artilharia – o Ten Bodycomb se desliga, através do rádio, da posição de líder. Ele tem um motor parado e um segundo motor com muita fumaça devido aos danos causados pelo FLAK. Com apenas dois motores funcionando a pleno vapor, o avião perde altitude rapidamente. É seguido por dois caças P-38 e visto, pela última vez, a cerca de 9 mil pés de altitude, por volta das 14:32. Nenhum pára-quedas foi visto deixando o avião.[8]

Qual teria sido o destino do B-24 Bad Penny e sua tripulação? O relatório de perda de tripulações (MACR) indica que , possivelmente, o avião tenha sido escoltado por caças P-38 em direção a Iugoslávia, considerada território ‘amigo’. Nenhum dos tripulantes torna-se prisioneiro de guerra e nenhum é ferido gravemente. Além da tripulação, o avião transportava também o fotografo aéreo Cabo Cyril Levine.

A hipótese é que, algumas semanas depois do acidente, o Ten Bodycomb e sua tripulação tenham conseguido voltar a Castelluccio, sede do 726º Esquadrão de Bombardeio. O relatório indica que todos os tripulantes retornaram ao serviço. Possivelmente Rosser I. Bodycomb, acabou por completar suas missões de combate necessárias, bem como os outros homens de sua tripulação, para receber sua dispensa honrosa do serviço militar. A guerra ainda iria se prolongar por mais alguns meses, mas dela Bodycomb bem como seus homens, saíram vivos.




[1] Ordem de Operações No. 212 de 16 de Outubro de 1944. Expedida pelo Quartel-General do 49th Bombardment Wing (H). US ARMY. Air Force Historical Research Agency (AFHRA)
[2] Electronic Army Serial Number Merged File, ca. 1938 - 1946 (Enlistment Records). In the Series: World War II Army Enlistment Records, created 6/1/2002 - 9/30/2002, documenting the period ca. 1938 - 1946. - Record Group 64. National Archives, USA.
[3] Aircraft Accident Report 45-10-16-511. Air Force Historical Research Agency (AFHRA)
[4] DARR, Robert F. B-24 Liberator Units of the Fifieenth Air Force. Osprey Publishers, 200. p. 9.
[5] History of the 451st Bombardment Group (H) from oct. 1.44 to oct. 31.44. Air Force Historical Research Agency (AFHRA)
[6] Imagem Inédita. Coleção pessoal de Fernanda Nascimento.
[7] Aircraft Accident Report 45-10-16-511. Air Force Historical Research Agency (AFHRA)
[8] Missing Air Crew Report MACR 9585, Publication Number: M1380, National Archives, USA.

2 comentários:

Anônimo disse...

Legal, Fernanda!
O Bodycomb, melhor dizendo, Rosser Irving Bodycomb deve ter sido uma "fera". Foi condecorado com a DISTINGUISHED FLYING CROSS, AIR MEDAL, EUROPEAN THEATER MEDAL e PURPLE HEART.

O www.wwiimemorial.com tá funcionando muito bem.

Abraços e Parabéns!

Gustavo Lima

Fernanda de S. Nascimento disse...

Olá Gustavo! Pois é. Quando eu adquiri aquela foto não imaginava que haveria tanta história por trás. Comecei rastreando o B-24 pelo numero de série dele e descobri que tinha ocorrido o acidente em 16.10.44. Consegui os documentos com o Arquivo da USAAF e passei a pesquisar o destino da tripulação. Encontrei o relatorio de perda de tripulação e a indicação que os tripulantes voltaram. Não sei em que ocasião o Ten. Bodycomb recebeu sua Purple Heart. Infelizmente, muito da história se perde.
Abraços,
Fernanda