Os melhores pilotos e as melhores tripulações foram escolhidas para essa missão: atacar aeródromos russos como parte dos preparativos para a operação Barbarossa, a invasão da Rússia pela Alemanha. Não eram muitos; seu efetivo não ultrapassava 20 aviões, de modo que cada grupo de três bombardeiros deveria lançar suas bombas sobre um aeródromo.[1] A tática era muito mais dispersiva do que efetiva de fato. Baseava-se na idéia de causar confusão as linhas russas, sobretudo na Força Aérea Vermelha do que efetivamente destruir seus aeródromos. Mas ao longo do dia 22 de junho de 1941 o principal objetivo da Luftwaffe era manter a superioridade aérea, a custa da destruição em massa dos aviões russos ainda no chão.
A missão partiu na noite do dia 21. Deveria atacar os aeródromos por volta das 3:15 da madrugada do dia 22, minutos antes que a barragem de artilharia rompesse as linhas da fronteira, e causar o máximo de confusão possível. A idéia era imobilizar parte da Força Aérea Vermelha dos aeródromos próximos a área da invasão, de modo que, pouco antes do amanhecer quando os bombardeiros e caças chegassem ao território russo encontrassem a menor resistência possível numa situação de ataque.
A invasão da Rússia havia sido discutida pela Luftwaffe cerca de um ano antes, quando o Alto Comando das forças armadas alemã havia encaminhado o pedido de planejamento das operações da Luftwaffe em caso de invasão a Rússia. Na época a Luftwaffe tinha consciência dos problemas enfrentados pela Rússia. Sua força aérea era problemática: possuía aviões obsoletos, assim como a Alemanha carecia de bombardeiros pesados e não possuía um sistema de radar ou alarme adequado às necessidades de um conflito.[2] Além disso, muitos veteranos experientes da Guerra Civil espanhola haviam sido afastados do serviço quando dos expurgos de Stalin, em 1938. Seus números eram impressionantes: calcula-se que as vésperas da invasão possuía cerca de 8 mil aviões de vários tipos, muitos dos quais obsoletos ou parados.
A invasão terrestre seria iniciada em três fronts com objetivos distintos: o Grupo Norte, comandado pelo Marechal de Campo Ritter Von Leeb deveria rumar até Leningrado; o Grupo do Centro comandado pelo Marechal de Campo Fedor Von Bock que deveria cortar a Rússia a fim de chegar a Moscou; e o grupo sul comandado pelo marechal de Campo Gerd von Rundstedt que deveria entrar pela fronteira da Ucrânia, tendo como meta Kiev.
A força atacante, resultado da soma dos três grupos de Exércitos, era fenomenal: 3 milhões de soldados alemães, 3.580 tanques, 7.184 canhões e quase 2 mil aviões, numa linha de ataque que se movia por 1.600km, do Báltico até o Mar Negro.[3] A Luftwaffe apoiaria cada grupo de Exército com uma frota aérea. As três frotas contavam com aparelhos de todos os tipos e guarneceriam a imensa linha de frente da invasão, desde o Cabo Norte até o Mar negro: a quarta Frota Aérea era comandada pelo general Alexander Lohr e guarnecia o grupo Sul; a segunda por Albert Kesselring guarnecendo o grupo do Centro; e a primeira comandada pelo general Alfred Keller guarnecendo o Grupo Norte.
Com as luzes da alvorada veio o ataque certeiro: os caças bombardeiros da Luftawaffe atacariam os aeródromos mais próximos enquanto os bombardeiros realizariam incursões mais profundas ao território russo. De acordo com o depoimento de um oficial alemão “as pistas estavam cheias de filas de aviões de reconhecimento, de caça, de bombardeamento, como que preparados para uma revista”.[4] De fato, o comando russo prevendo a invasão havia ordenado que, a partir da manhã do dia 22 de junho, deveria se iniciar uma operação de camuflagem e dispersão dos aviões nos aeródromos próximos a fronteira. Mas o aviso chegou tarde demais e os aviões estavam sendo destruídos no solo.
Entre estes aviões, destaca-se o bombardeiro da imagem que ilustra este ensaio. Sendo vistoriado por um soldado alemão, vê-se um bombardeiro russo Tupolev SB-02 com motores M-103. Possivelmente a foto tenha sido tirada em um aeródromo tomado pelas forças de invasão naqueles dias finais de junho de 1941.
O Tupolev era um bombardeiro médio bimotor construído pela URSS a partir de 1934. Foi utilizado com sucesso na Guerra Civil espanhola ao lado das forças republicanas onde provou o seu valor comparado aos caças das forças nacionalistas. O Tupolev SB era rápido, forte e atingia uma boa altitude. Ao término da guerra, muitas unidades foram transferidas para a China e para a Checoslováquia. Durante a ofensiva russa sobre a Finlândia entre 1939 e 1940 o Tupolev já dava sinais de desgaste: sua velocidade já não era tão alta e o avião passou por reestruturações, normalmente a substituição dos motores antigos para motores mais eficientes. No entanto, já era uma aeronave obsoleta. Outras modificações foram efetuadas e o modelo SB já possuía diversas variações por volta de 1941, quando da invasão alemã à Rússia.
A maratona da Luftwaffe durante o dia 22 foi extremamente cansativa. Os aviões que retornavam aos seus postos eram imediatamente rearmados e mandados de volta para a batalha. Por volta do meio dia a batalha pela supremacia do ar ganhou novos personagens: levas de caças russos biplanos e de bombardeiros, como o Tupolev, avançavam do horizonte em direção aos aeródromos alemães. Possivelmente estes aviões vinham de áreas de pouso do interior que não foram alcançadas pelas incursões matinais da Luftwaffe.
Mesmo assim os números assustavam: os relatórios preliminares da Luftwaffe estimavam em mais de 1.800 aviões russos destruídos apenas no primeiro dia de batalha. Cerca de 2/3 deste numero era de aviões destruídos em solo. A Rússia, por sua vez, assumiu que no primeiro dia de baralha teve 1.200 aviões destruídos caracterizando a participação da Luftwaffe como “uma influência decisiva no triunfo das forças terrestres alemãs” [5]. O mesmo texto informa que 66 aeródromos russos próximos à zona fronteiriça foram destruídos nas incursões do dia 22 de junho.
Apesar de ter infligindo importantes danos a Força Aérea Vermelha em termos operacionais, as perdas foram pequenas em relação ao fator humano. Tripulações e pilotos treinados foram resguardados, de forma que, a curto prazo, os danos dos primeiros dias de batalha foram superados. Além disso, a falta por parte da Luftwaffe de aviões bombardeiros de longo alcance impossibilitava o ataque das fábricas de aviões russas que se situavam além dos montes Urais. Naquele primeiro dia de batalha os alemães tiveram 78 aviões destruídos. Este número causou surpresa, pois superou as perdas de aviões perdidos em 15 de setembro de 1940, durante a batalha da Inglaterra, no pior dos dias da Luftwaffe até então.
Mesmo assim a campanha seria favorável a Luftwaffe até aproximadamente outubro de 1941. Nos dias subseqüentes a invasão os aviões trataram de dar apoio ao avanço das colunas blindadas e da infantaria nos diversos setores da invasão. Devido à extensão da linha – mais de 1.600km – havia dificuldade em se manter s superioridade aérea em todos os setores. Foi a partir de outubro de 1941 que os problemas da Luftwaffe tornaram-se mais graves: com perdas de aproximadamente 1.600 aviões, alguns modelos estavam encontrando dificuldades de reposição rápida – como o Ju-88 e o He-111 e as perdas em tripulações e pilotos eram sérias e não havia reposição efetiva.[6] Com esses problemas, a Luftwaffe entraria o inverno de 1941 com maus presságios não só para seus homens e sua campanha, como também aos exércitos em terra que já enfrentavam os problemas advindos do inverno russo.
A missão partiu na noite do dia 21. Deveria atacar os aeródromos por volta das 3:15 da madrugada do dia 22, minutos antes que a barragem de artilharia rompesse as linhas da fronteira, e causar o máximo de confusão possível. A idéia era imobilizar parte da Força Aérea Vermelha dos aeródromos próximos a área da invasão, de modo que, pouco antes do amanhecer quando os bombardeiros e caças chegassem ao território russo encontrassem a menor resistência possível numa situação de ataque.
A invasão da Rússia havia sido discutida pela Luftwaffe cerca de um ano antes, quando o Alto Comando das forças armadas alemã havia encaminhado o pedido de planejamento das operações da Luftwaffe em caso de invasão a Rússia. Na época a Luftwaffe tinha consciência dos problemas enfrentados pela Rússia. Sua força aérea era problemática: possuía aviões obsoletos, assim como a Alemanha carecia de bombardeiros pesados e não possuía um sistema de radar ou alarme adequado às necessidades de um conflito.[2] Além disso, muitos veteranos experientes da Guerra Civil espanhola haviam sido afastados do serviço quando dos expurgos de Stalin, em 1938. Seus números eram impressionantes: calcula-se que as vésperas da invasão possuía cerca de 8 mil aviões de vários tipos, muitos dos quais obsoletos ou parados.
A invasão terrestre seria iniciada em três fronts com objetivos distintos: o Grupo Norte, comandado pelo Marechal de Campo Ritter Von Leeb deveria rumar até Leningrado; o Grupo do Centro comandado pelo Marechal de Campo Fedor Von Bock que deveria cortar a Rússia a fim de chegar a Moscou; e o grupo sul comandado pelo marechal de Campo Gerd von Rundstedt que deveria entrar pela fronteira da Ucrânia, tendo como meta Kiev.
A força atacante, resultado da soma dos três grupos de Exércitos, era fenomenal: 3 milhões de soldados alemães, 3.580 tanques, 7.184 canhões e quase 2 mil aviões, numa linha de ataque que se movia por 1.600km, do Báltico até o Mar Negro.[3] A Luftwaffe apoiaria cada grupo de Exército com uma frota aérea. As três frotas contavam com aparelhos de todos os tipos e guarneceriam a imensa linha de frente da invasão, desde o Cabo Norte até o Mar negro: a quarta Frota Aérea era comandada pelo general Alexander Lohr e guarnecia o grupo Sul; a segunda por Albert Kesselring guarnecendo o grupo do Centro; e a primeira comandada pelo general Alfred Keller guarnecendo o Grupo Norte.
Com as luzes da alvorada veio o ataque certeiro: os caças bombardeiros da Luftawaffe atacariam os aeródromos mais próximos enquanto os bombardeiros realizariam incursões mais profundas ao território russo. De acordo com o depoimento de um oficial alemão “as pistas estavam cheias de filas de aviões de reconhecimento, de caça, de bombardeamento, como que preparados para uma revista”.[4] De fato, o comando russo prevendo a invasão havia ordenado que, a partir da manhã do dia 22 de junho, deveria se iniciar uma operação de camuflagem e dispersão dos aviões nos aeródromos próximos a fronteira. Mas o aviso chegou tarde demais e os aviões estavam sendo destruídos no solo.
Entre estes aviões, destaca-se o bombardeiro da imagem que ilustra este ensaio. Sendo vistoriado por um soldado alemão, vê-se um bombardeiro russo Tupolev SB-02 com motores M-103. Possivelmente a foto tenha sido tirada em um aeródromo tomado pelas forças de invasão naqueles dias finais de junho de 1941.
O Tupolev era um bombardeiro médio bimotor construído pela URSS a partir de 1934. Foi utilizado com sucesso na Guerra Civil espanhola ao lado das forças republicanas onde provou o seu valor comparado aos caças das forças nacionalistas. O Tupolev SB era rápido, forte e atingia uma boa altitude. Ao término da guerra, muitas unidades foram transferidas para a China e para a Checoslováquia. Durante a ofensiva russa sobre a Finlândia entre 1939 e 1940 o Tupolev já dava sinais de desgaste: sua velocidade já não era tão alta e o avião passou por reestruturações, normalmente a substituição dos motores antigos para motores mais eficientes. No entanto, já era uma aeronave obsoleta. Outras modificações foram efetuadas e o modelo SB já possuía diversas variações por volta de 1941, quando da invasão alemã à Rússia.
A maratona da Luftwaffe durante o dia 22 foi extremamente cansativa. Os aviões que retornavam aos seus postos eram imediatamente rearmados e mandados de volta para a batalha. Por volta do meio dia a batalha pela supremacia do ar ganhou novos personagens: levas de caças russos biplanos e de bombardeiros, como o Tupolev, avançavam do horizonte em direção aos aeródromos alemães. Possivelmente estes aviões vinham de áreas de pouso do interior que não foram alcançadas pelas incursões matinais da Luftwaffe.
Mesmo assim os números assustavam: os relatórios preliminares da Luftwaffe estimavam em mais de 1.800 aviões russos destruídos apenas no primeiro dia de batalha. Cerca de 2/3 deste numero era de aviões destruídos em solo. A Rússia, por sua vez, assumiu que no primeiro dia de baralha teve 1.200 aviões destruídos caracterizando a participação da Luftwaffe como “uma influência decisiva no triunfo das forças terrestres alemãs” [5]. O mesmo texto informa que 66 aeródromos russos próximos à zona fronteiriça foram destruídos nas incursões do dia 22 de junho.
Apesar de ter infligindo importantes danos a Força Aérea Vermelha em termos operacionais, as perdas foram pequenas em relação ao fator humano. Tripulações e pilotos treinados foram resguardados, de forma que, a curto prazo, os danos dos primeiros dias de batalha foram superados. Além disso, a falta por parte da Luftwaffe de aviões bombardeiros de longo alcance impossibilitava o ataque das fábricas de aviões russas que se situavam além dos montes Urais. Naquele primeiro dia de batalha os alemães tiveram 78 aviões destruídos. Este número causou surpresa, pois superou as perdas de aviões perdidos em 15 de setembro de 1940, durante a batalha da Inglaterra, no pior dos dias da Luftwaffe até então.
Mesmo assim a campanha seria favorável a Luftwaffe até aproximadamente outubro de 1941. Nos dias subseqüentes a invasão os aviões trataram de dar apoio ao avanço das colunas blindadas e da infantaria nos diversos setores da invasão. Devido à extensão da linha – mais de 1.600km – havia dificuldade em se manter s superioridade aérea em todos os setores. Foi a partir de outubro de 1941 que os problemas da Luftwaffe tornaram-se mais graves: com perdas de aproximadamente 1.600 aviões, alguns modelos estavam encontrando dificuldades de reposição rápida – como o Ju-88 e o He-111 e as perdas em tripulações e pilotos eram sérias e não havia reposição efetiva.[6] Com esses problemas, a Luftwaffe entraria o inverno de 1941 com maus presságios não só para seus homens e sua campanha, como também aos exércitos em terra que já enfrentavam os problemas advindos do inverno russo.
[1] BEKKER, Cajus. A História da Luftwaffe. Bruguera: 1971.p. 449
[2] KILLEN, John. A História da Luftwaffe. Record: Rio de Janeiro, 1976. p. 167
[3] WILMOTT, H.P. CROSS, Robin. WORLD WAR II. DK publishing, 2004. p. 98.
[4] BEKKER, op. Cit. p. 453
[5] IBID, p. 460
[6] PRICE, Alfred. Luftwaffe. A arma aérea Alemã. Rennes: Rio de Janeiro, 1974. p. 79
2 comentários:
Olá Fernanda,
Sou jornalista e estou procurando personagens para uma matéria. Você conhece algum brasileiro que tenha participado da segunda guerra e que tope dar uma entrevista? Meu email: julianaveronese@yahoo.com.br
Obrigada
Abs,
Juliana
meus parabéns pelo seu trabalho. gostaria que me indica-se um trabalho somente sobre as nossas FA, pois acho que temos vergonha de falar da nossa força.
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