Não creio que qualquer homem que cruzou aquele dia o rio nos barcos e foi afortunado o suficiente para chegar ao outro lado venha a esquecer disso algum dia em sua vida. Não existe nenhuma forma de você poder visualizar o diabo que aquilo foi. Jamais vou esquecer e ainda hoje tenho sonhos em que estou de volta ao barco, e estou remando como um louco.[1]
As palavras acima foram proferidas pelo Ten Thomas F. Pitt, S-1 do 3º Batalhão do 504º Regimento da 82ª Airborne. Seu regimento, sob o comando do Major Julian Cook, foi o responsável pela travessia anfíbia do rio Waal em 20 de setembro de 1944, na Holanda. Pitt (foto ao lado) atravessou o rio naquele dia. E não imaginava como iria se lembrar pelo resto de sua vida sua participação na Market Garden.
A operação Market Garden desmoronava a cada minuto que passava. Sua execução perfeita dependia de um sem número de ações positivas em todo o trajeto. Havia sido planejada como uma ação rápida contra inimigos improváveis – o exército alemão em debandada. Deveria, portanto, ser uma operação de sucesso.
O que mais incomodava os comandantes das divisões aerotransportadas era o fato de que, por falta de aviões, haveria três levas de pára-quedistas. Os regimentos de planadores tanto da 101ª quanto da 82ª americanas só desceriam na manhã do dia 18. A prioridade de planadores havia sido dada a 1ª divisão inglesa que deveria manter a ponte de Arnhem por, no mínimo, 48 horas. A terceira leva de pára-quedistas seria composta pela brigada polonesa. Estes deveriam dar apoio aos ingleses em Arnhem.
O atraso do primeiro dia foi crucial para o resto da operação.O engarrafamento causado pela destruição de vários veículos nos primeiros minutos da operação e a forte resistência alemã fizeram com que os blindados chegassem em Eindhoven apenas no dia 18. A 82ª havia atingido seus objetivos, como a tomada das pontes sobre o rio Grave e do canal do Maas-Waal intactas; mas a ponte sobre o rio Son havia sido parcialmente destruída pelos alemães no momento da chegada das tropas americanas e sua reconstrução pelos engenheiros só finalizou na manhã do dia 19. O corpo blindado estava atrasado 36 horas em relação ao planejamento da Market-Garden.[2] Neste exato momento, os homens comandados pelo Gen. Urquart em Arnhem estavam há quase 48 horas resistindo nas proximidades da ponte, em sua margem norte. Ninguém sabia como estava a situação em Arnhem: os rádios não funcionavam. Os soldados em Arnhem não tinham ligação nem com o QG do General Browning na Holanda e nem com a Inglaterra.
Além disso, os soldados pára-quedistas da 1ª divisão inglesa, os Red Devils, descobriram um sinistro panorama militar: do lado sul da ponte tropas da Waffen-SS, sob o comando de Bittrich, ameaçam atravessá-la a qualquer momento e destruir a resistência inglesa.
Bittrich foi um dos oficiais alemães mais geniais durante as primeiras horas da Market-Garden. Quando foi informado do local de descida das tropas pára-quedistas logo imaginou que o objetivo seriam as pontes. Só não imaginava como seriam tomadas ou se mais tropas viriam juntamente com os pára-quedistas. Teria dito ele: “Em minha opinião os objetivos são as pontes. Uma vez que elas sejam asseguradas Monty pode investir diretamente para o centro da Holanda e de lá invadir o Ruhr”.[3] O desejo de Bittrich era destruir tanto a ponte de Arnhem quanto de Nijmegen. O Marechal de Campo Model de modo algum aceitou isso. As tropas deveriam ser neutralizadas sem a destruição das pontes.
O aterramento da segunda leva em três zonas de assalto foi dramático. Em meio ao campo de batalha centenas de soldados, sobretudo da 82ª, desciam dos céus acompanhados de balas e artilharia aérea, que acertava os aviões reboques e os planadores. Muitos equipamentos se perderam, sobretudo aviões de transporte. Mas o pior foi que os aviões de reabastecimento das tropas lançaram milhares de toneladas de suprimentos em zonas ainda ocupadas pelos alemães.
Apenas no final do dia 19 os soldados da 82ª chegaram as cercanias de Nijmegen. Aproveitando a escuridão, elementos do regimento 508º e 504ª da 82ª entraram na cidade de e foram em direção ao lado sul da ponte ferroviária. Escaramuças e lutas se deram em vários setores da cidade. Os pára-quedistas venceram por alguns quarteirões até chegarem nas proximidades da ponte.
A região de Nijmegen, cortada pelo rio Waal, tinha duas pontes: uma ponte rodoviária, com cerca de 1563m de extensão (contando as rampas de acesso à ponte, em terra) e a ponte ferroviária com cerca de 365m de extensão sobre o rio. A distância entre as pontes era de cerca de 1km. A ponte escolhida para o assalto anfíbio era a ponte ferroviária. Além de ser menor, à distância da ponte rodoviária não permitiria o fogo cruzado de metralhadoras e artilharia instaladas na ponte rodoviária. Assim, o assalto se daria na distância aproximada de 1600m da ponte ferroviária, à jusante. A foto aérea ao lado é bastante esclarecedora.[4]
As palavras acima foram proferidas pelo Ten Thomas F. Pitt, S-1 do 3º Batalhão do 504º Regimento da 82ª Airborne. Seu regimento, sob o comando do Major Julian Cook, foi o responsável pela travessia anfíbia do rio Waal em 20 de setembro de 1944, na Holanda. Pitt (foto ao lado) atravessou o rio naquele dia. E não imaginava como iria se lembrar pelo resto de sua vida sua participação na Market Garden.
A operação Market Garden desmoronava a cada minuto que passava. Sua execução perfeita dependia de um sem número de ações positivas em todo o trajeto. Havia sido planejada como uma ação rápida contra inimigos improváveis – o exército alemão em debandada. Deveria, portanto, ser uma operação de sucesso.
O que mais incomodava os comandantes das divisões aerotransportadas era o fato de que, por falta de aviões, haveria três levas de pára-quedistas. Os regimentos de planadores tanto da 101ª quanto da 82ª americanas só desceriam na manhã do dia 18. A prioridade de planadores havia sido dada a 1ª divisão inglesa que deveria manter a ponte de Arnhem por, no mínimo, 48 horas. A terceira leva de pára-quedistas seria composta pela brigada polonesa. Estes deveriam dar apoio aos ingleses em Arnhem.
O atraso do primeiro dia foi crucial para o resto da operação.O engarrafamento causado pela destruição de vários veículos nos primeiros minutos da operação e a forte resistência alemã fizeram com que os blindados chegassem em Eindhoven apenas no dia 18. A 82ª havia atingido seus objetivos, como a tomada das pontes sobre o rio Grave e do canal do Maas-Waal intactas; mas a ponte sobre o rio Son havia sido parcialmente destruída pelos alemães no momento da chegada das tropas americanas e sua reconstrução pelos engenheiros só finalizou na manhã do dia 19. O corpo blindado estava atrasado 36 horas em relação ao planejamento da Market-Garden.[2] Neste exato momento, os homens comandados pelo Gen. Urquart em Arnhem estavam há quase 48 horas resistindo nas proximidades da ponte, em sua margem norte. Ninguém sabia como estava a situação em Arnhem: os rádios não funcionavam. Os soldados em Arnhem não tinham ligação nem com o QG do General Browning na Holanda e nem com a Inglaterra.
Além disso, os soldados pára-quedistas da 1ª divisão inglesa, os Red Devils, descobriram um sinistro panorama militar: do lado sul da ponte tropas da Waffen-SS, sob o comando de Bittrich, ameaçam atravessá-la a qualquer momento e destruir a resistência inglesa.
Bittrich foi um dos oficiais alemães mais geniais durante as primeiras horas da Market-Garden. Quando foi informado do local de descida das tropas pára-quedistas logo imaginou que o objetivo seriam as pontes. Só não imaginava como seriam tomadas ou se mais tropas viriam juntamente com os pára-quedistas. Teria dito ele: “Em minha opinião os objetivos são as pontes. Uma vez que elas sejam asseguradas Monty pode investir diretamente para o centro da Holanda e de lá invadir o Ruhr”.[3] O desejo de Bittrich era destruir tanto a ponte de Arnhem quanto de Nijmegen. O Marechal de Campo Model de modo algum aceitou isso. As tropas deveriam ser neutralizadas sem a destruição das pontes.
O aterramento da segunda leva em três zonas de assalto foi dramático. Em meio ao campo de batalha centenas de soldados, sobretudo da 82ª, desciam dos céus acompanhados de balas e artilharia aérea, que acertava os aviões reboques e os planadores. Muitos equipamentos se perderam, sobretudo aviões de transporte. Mas o pior foi que os aviões de reabastecimento das tropas lançaram milhares de toneladas de suprimentos em zonas ainda ocupadas pelos alemães.
Apenas no final do dia 19 os soldados da 82ª chegaram as cercanias de Nijmegen. Aproveitando a escuridão, elementos do regimento 508º e 504ª da 82ª entraram na cidade de e foram em direção ao lado sul da ponte ferroviária. Escaramuças e lutas se deram em vários setores da cidade. Os pára-quedistas venceram por alguns quarteirões até chegarem nas proximidades da ponte.
A região de Nijmegen, cortada pelo rio Waal, tinha duas pontes: uma ponte rodoviária, com cerca de 1563m de extensão (contando as rampas de acesso à ponte, em terra) e a ponte ferroviária com cerca de 365m de extensão sobre o rio. A distância entre as pontes era de cerca de 1km. A ponte escolhida para o assalto anfíbio era a ponte ferroviária. Além de ser menor, à distância da ponte rodoviária não permitiria o fogo cruzado de metralhadoras e artilharia instaladas na ponte rodoviária. Assim, o assalto se daria na distância aproximada de 1600m da ponte ferroviária, à jusante. A foto aérea ao lado é bastante esclarecedora.[4]
A necessidade de se transpor o rio através de embarcações surgiu dada a impossibilidade de se tomar a ponte de apenas um lado. A ponte rodoviária estava fortemente defendida pelos alemães em ambos os lados. A ponte ferroviária, exatamente por ser ferroviária, estava menos protegida e o terreno do lado sul próximo à ponte deveria ser tomado por patrulhas de pára-quedistas, possibilitando assim o assalto anfíbio.A idéia havia sido do Gen. Gavin, comandante da 82ª divisão de pára-quedistas. No dia anterior, 19 de setembro, Gavin apresentou seu plano ao Gen. Browning comandante da operação na Holanda, que o aprovou. Com o apoio dos barcos que a coluna blindada de Horrocks trazia, o assalto seria a única forma de tomar a ponte.
O regimento 504º do Coronel Reuben Tucker foi escalado por Gavin para realizar o assalto anfíbio pelo Waal. Embora soubesse que os pára-quedistas não haviam sido treinados para nada parecido, Gavin confiava enormemente na capacidade de comando de Tucker e na tenacidade de seus homens.
Por volta das seis horas da manhã do dia 20 o capitão Harris recebeu ordens do Coronel Tucker, comandante do Regimento 504º, para preparar uma travessia através do rio Waal.[5] Harris era comandante da companhia C do 307º batalhão de engenheiros pára-quedistas da 82ª Divisão Aerotransportada. Os ingleses iriam fornecer 26 barcos de lona e madeira que deveriam ser montados pelos engenheiros americanos assim que chegassem. Além do mais, Harris recebeu ordem de preparar um grupo de engenheiros para remar os barcos. O objetivo seria trazer os barcos de volta após a travessia, de modo que mais soldados pudessem dar apoio às companhias iniciais, I e H do 504º Regimento de Infantaria, que iriam liderar o ataque. Cada barco, portanto, além de carregar os soldados, levaria ainda uma “tripulação” de três engenheiros. As sete da manhã Harris reúne seus oficiais a fim de passar as instruções recebidas.
Pouco depois das nove horas da manhã, Harris e alguns homens lideram uma patrulha de reconhecimento do terreno as margens do Waal. Seguidos pela companhia I, estes homens capturaram entre 50 e 60 prisioneiros alemães dispersos, entre eles snipers. Os soldados então passam a limpar a área, a fim de receber a companhia H, os tanques e a artilharia, além dos barcos do XXX Corpo blindado do Gen Horrocks que estavam a caminho.
O plano previa que 30 minutos antes da hora H, isto é, três horas da tarde, caças Typhoon ingleses deveriam bombardear e metralhar a margem norte do rio. Alguns minutos depois, os tanques iniciariam uma barragem de fogo por cerca de 15 minutos. Por ultimo, cinco minutos antes da partida da primeira leva de homens, os tanques lançariam bombas de fumaça para camuflar a força anfíbia. Todo o batalhão do Major Julian Cook deveria atravessar. Nas palavras de Corneluis Ryan esta seria uma das “mais arrojadas travessias de rio jamais realizada”.[6]
Após atravessarem o rio remando, enfrentando a correnteza média e o fogo inimigo da margem norte, os soldados deveriam avançar pela praia do rio, uma extensão de areia de comprimento variado. Após, subir uma barranca de aproximadamente seis metros e enfrentar algumas trincheiras e ninhos de metralhadoras. A esperança dos oficiais era que a artilharia dos tanques e o bombardeio dos Typhoons pudesse neutralizar o grosso da defesa na margem norte do rio.
Os homens estavam nervosos na margem sul a espera dos barcos. Muitos ali eram veteranos da África e da Normandia. Eles se preocupavam principalmente com a largura do rio. Além disso, a falta de treinamento específico deixava os homens inseguros. Muitos jamais haviam remado um barco. Os engenheiros, portanto, teriam uma tarefa milagrosa a fazer: manter alinhados e em movimento os barcos, enquanto os soldados rezavam por suas vidas. O Major Cook, a fim de melhorar o clima de preocupação, dizia que iria atravessar o rio em pé no barco, como George Washington, para dar força aos homens. O capelão do batalhão também acompanharia a primeira leva até a outra margem. Ele sentia a necessidade de acompanhar os homens na difícil travessia anfíbia.
As duas e meia da tarde os barcos ainda não haviam chegado. Mas os Typhoons já estavam em ação, iniciando o bombardeio da margem norte do Waal. Os tanques logo iniciaram seu ataque. Na margem sul do rio estavam alinhados um ao lado do outro, quase “lagarta com lagarta”. Por volta das 14:45 os barcos chegam e, às pressas, os engenheiros, auxiliados pelos soldados, iniciam sua montagem. O minuto que todos haviam aguardado com apreensão havia chegado: agora a travessia seria inadiável.
Os barcos foram montados. Mas faltavam remos em quase todos eles. A solução seria remar com os fuzis. Os soldados tiveram que empurrar os barcos até que o fundo não encostasse na areia do rio. Ao entrar de volta nos barcos agora lotados, alguns viraram. Os tanques, nesse momento, já haviam iniciado a cortina de fumaça e a artilharia alemã do outro lado revidava. Restava aos homens remar e rezar. E era exatamente o que faziam. O Major Julian Cook começou a rezar a Ave Maria para marcar o passo da remada dos homens em seu barco. Outros barcos ficaram girando em torno de si por falta de habilidade dos condutores com os remos; alguns tiveram dificuldades de vencer a média correnteza do rio.
O vento subitamente leva para longe a cortina de fumaça. Agora os homens estão remando sem nenhuma proteção, a mercê dos atiradores alemães na margem norte. Nessa altura não existem mais 26 barcos: alguns afundaram e sofreram avarias logo no inicio da travessia. A artilharia alemã daria conta de mais alguns ainda: os soldados se amontoavam nos barcos, tentando desviar das balas que atingiam seus camaradas nos barcos ao lado. Em determinado barco, um soldado levou um tiro certeiro e seu corpo ficou pendurado para o lado de fora do barco, causando terror e embaraço aos tripulantes que tiveram de colocar o corpo dele para dentro. Em outros, o companheiro da frente era ferido, enquanto uma bala passava de raspão pelo capacete do soldado ao lado. Os projeteis da artilharia explodiam na água causando uma chuva de água gelada do rio.
Aos poucos os primeiros barcos atingem a margem norte. Os homens descem rápido e iniciam a travessia pela praia do rio. Os primeiros embates se iniciam e os soldados de Cook vão ganhando terreno. Cerca de 260 homens foram transportados na primeira leva. Pelo menos metade deles morreu ou foram feridos ao longo da travessia.[7] Dos 26 barcos restaram apenas 11, menos da metade dos barcos. Eles seriam levados de volta a fim de trazer os reforços à primeira leva atacante. Os fieis engenheiros iriam ainda realizar mais 4 viagens até trazer todo o batalhão e alguns elementos isolados. As levas seguintes não foram tão prejudicadas pelo fogo inimigo: os primeiros soldados tiveram sucesso ao neutralizar os ninhos de metralhadoras e a artilharia das trincheiras alemãs após o barranco que dava acesso à estrada.
O Ten Thomas Pitt avançava através da praia e costeando a barranca podia enxergar os alemães logo acima. Em pouco tempo começou um jogo de granadas, onde Pitt e alguns homens arremessavam granadas para o outro lado da barragem e os alemães respondiam lançando suas próprias granadas. Pouco depois, com apoio de outros soldados, o Tenente Pitt conseguiu chegar a proximidade da ponte ferroviária, ainda sob forte fogo alemão.
A batalha pela entrada norte da ponte ferroviária de Nijmegen durou cerca de 2 horas. Por volta das 17 horas a ponte havia sido tomada em feroz batalha e mais de 260 alemães jaziam nas proximidades mortos ou feridos. Muitos foram feitos prisioneiros. As companhias H e I, do primeiro assalto, estavam tão cansadas e obstinadas que a visão de seus colegas mortos na praia do rio os impulsionava ainda mais. Um capitão chegou a notar: “o que restou do batalhão parecia tomado pela vontade de se lançar e, enlouquecidos pelo ódio, os homens perderam a noção do medo. Eu nunca vi criaturas humanas se transformarem tão profundamente naquele dia”.[8] Com a ponte ferroviária tomada, os soldados se puseram a caminho da ponte rodoviária sobre o rio Waal. O desenho abaixo é bastante esclarecedor em relação aos locais de partida do assalto anfíbio e das forças nele envolvidas.[9]
O comando da operação alemã estavas nas mãos do Gen. Heinz Harmel, comandante da 10ª Dvisão Panzer-SS Frundsberg. Harmel observava a batalha ao longe, em um posto após a ponte rodoviária. De lá ele não enxergava a ponte ferroviária e não imaginava que ela estava tomada. Ele enxergava a fumaça e o som da batalha, mas os informes que chegavam eram exagerados e imprecisos. Ele estava consciente de que a ponte rodoviária deveria ser destruída. E decidiu que ao passar o primeiro tanque britânico sobre a ponte, ele acionaria a carga de demolição. Mas, por ocasião do destino, ao enxergar o primeiro tanque passar e acionar as cargas a ponte não foi pelos ares. Os tanques britânicos passaram sobre a ponte, vencendo a resistência alemã. A demolição falhou.
Por volta das 19:15 a ponte rodoviária estava tomada. A cidade de Arnhem, ponto culminante da Market Garden, estava a pouco mais de 17 quilômetros dali. A tomada das pontes custou mais de 134 baixas entre os americanos, a maioria de mortos. Cerca de 417 corpos de alemães foram recolhidos posteriormente nas imediações das pontes.[10]
O que aconteceu depois foi de difícil explicação para os homens. Todo o seu sacrifício parecia ter sido em vão. Os tanques ingleses não avançaram depois da ponte. Apenas 400m da estrada estavam seguros pelos aliados e o restante, até Arnhem, deveria ser tomado palmo a palmo e os tanques seriam cruciais para isso. Os ingleses se recusaram a partir a noite. O Coronel Tucker, responsável pela travessia e tomada das pontes, se envolveu em uma acalorada discussão com um oficial britânico. Os britânicos se recusavam a avançar.
O Gen. Gavin, ao ser informado da situação, tomou partido de seus homens. Sabia que era necessário avançar enquanto a defesa alemã ainda não havia se restabelecido em Nijmegen. Era necessário ainda chegar o mais cedo possível em Arnhem para ajudar os pára-quedistas britânicos que, a esta hora, já haviam sido quase que totalmente massacrados pelos elementos Panzer que atravessaram a ponte. Mas Gavin estava consciente dos problemas britânicos: a infantaria ainda estava muitos quilômetros atrás e o combustível dos tanques estava perigosamente baixo. Mesmo concordando com o avanço necessário, as condições não eram ser positivas. Os soldados só partiriam na manhã seguinte em direção a Arnhem. E até lá tiveram que esperar.
[1] Depoimento oral de Thomas F. Pitt, Tenente S-1 do 504º Regimento da 82ª Airborne, falecido em 2 de novembro de 1997. Disponível em http://www.ww2-airborne.us/pictures/82_pictures.html
[2] RYAN, Cornelius. Uma Ponte Longe Demais. BIBLIEX: Rio de Janeiro, 1978. p. 306
[3] RYAN, Cornelius. op. cit. p. 225
[4] BADSEY, Stephen. Arnhem 1944 – Operation Market Garden. Osprey Publishing, 2004. p. 29
[5] WILLIANS, Capt. Robert K. Report of Action, 307 A/B Engr. Bn, to Commanding General, 82nd Airborne Division, 25 September 1944. Retirado do livro YOUNG, Col. Charles H. Into The Valley, The Untold Story of USAAF Troop Carrier in World War II, From North Africa Through Europe. Edição do autor, 1995. Publicado no site http://www.usaaftroopcarrier.com/Holland/H-Waal%20River%20Crossing.htm.
[6] RYAN, Cornelius. op. cit. p. 344
[7] WILLIANS, Capt. Robert K. Report of Action, 307 A/B Engr. Bn, to Commanding General, 82nd Airborne Division, 25 September 1944. Retirado do livro YOUNG, Col. Charles H. Into The Valley, The Untold Story of USAAF Troop Carrier in World War II, From North Africa Through Europe. Edição do autor, 1995. Publicado no site http://www.usaaftroopcarrier.com/Holland/H-Waal%20River%20Crossing.htm.
[8] RYAN, Cornelius. op. cit. p. 352
[9] BADSEY, Stephen. Arnhem 1944 – Operation Market Garden. Osprey Publishing, 2004. p. 51-52. Tradução e diagramação pelo colega Galdino. Muito obrigada!
[10] BADSEY, Stephen. op. cit. . p. 62
O regimento 504º do Coronel Reuben Tucker foi escalado por Gavin para realizar o assalto anfíbio pelo Waal. Embora soubesse que os pára-quedistas não haviam sido treinados para nada parecido, Gavin confiava enormemente na capacidade de comando de Tucker e na tenacidade de seus homens.
Por volta das seis horas da manhã do dia 20 o capitão Harris recebeu ordens do Coronel Tucker, comandante do Regimento 504º, para preparar uma travessia através do rio Waal.[5] Harris era comandante da companhia C do 307º batalhão de engenheiros pára-quedistas da 82ª Divisão Aerotransportada. Os ingleses iriam fornecer 26 barcos de lona e madeira que deveriam ser montados pelos engenheiros americanos assim que chegassem. Além do mais, Harris recebeu ordem de preparar um grupo de engenheiros para remar os barcos. O objetivo seria trazer os barcos de volta após a travessia, de modo que mais soldados pudessem dar apoio às companhias iniciais, I e H do 504º Regimento de Infantaria, que iriam liderar o ataque. Cada barco, portanto, além de carregar os soldados, levaria ainda uma “tripulação” de três engenheiros. As sete da manhã Harris reúne seus oficiais a fim de passar as instruções recebidas.
Pouco depois das nove horas da manhã, Harris e alguns homens lideram uma patrulha de reconhecimento do terreno as margens do Waal. Seguidos pela companhia I, estes homens capturaram entre 50 e 60 prisioneiros alemães dispersos, entre eles snipers. Os soldados então passam a limpar a área, a fim de receber a companhia H, os tanques e a artilharia, além dos barcos do XXX Corpo blindado do Gen Horrocks que estavam a caminho.
O plano previa que 30 minutos antes da hora H, isto é, três horas da tarde, caças Typhoon ingleses deveriam bombardear e metralhar a margem norte do rio. Alguns minutos depois, os tanques iniciariam uma barragem de fogo por cerca de 15 minutos. Por ultimo, cinco minutos antes da partida da primeira leva de homens, os tanques lançariam bombas de fumaça para camuflar a força anfíbia. Todo o batalhão do Major Julian Cook deveria atravessar. Nas palavras de Corneluis Ryan esta seria uma das “mais arrojadas travessias de rio jamais realizada”.[6]
Após atravessarem o rio remando, enfrentando a correnteza média e o fogo inimigo da margem norte, os soldados deveriam avançar pela praia do rio, uma extensão de areia de comprimento variado. Após, subir uma barranca de aproximadamente seis metros e enfrentar algumas trincheiras e ninhos de metralhadoras. A esperança dos oficiais era que a artilharia dos tanques e o bombardeio dos Typhoons pudesse neutralizar o grosso da defesa na margem norte do rio.
Os homens estavam nervosos na margem sul a espera dos barcos. Muitos ali eram veteranos da África e da Normandia. Eles se preocupavam principalmente com a largura do rio. Além disso, a falta de treinamento específico deixava os homens inseguros. Muitos jamais haviam remado um barco. Os engenheiros, portanto, teriam uma tarefa milagrosa a fazer: manter alinhados e em movimento os barcos, enquanto os soldados rezavam por suas vidas. O Major Cook, a fim de melhorar o clima de preocupação, dizia que iria atravessar o rio em pé no barco, como George Washington, para dar força aos homens. O capelão do batalhão também acompanharia a primeira leva até a outra margem. Ele sentia a necessidade de acompanhar os homens na difícil travessia anfíbia.
As duas e meia da tarde os barcos ainda não haviam chegado. Mas os Typhoons já estavam em ação, iniciando o bombardeio da margem norte do Waal. Os tanques logo iniciaram seu ataque. Na margem sul do rio estavam alinhados um ao lado do outro, quase “lagarta com lagarta”. Por volta das 14:45 os barcos chegam e, às pressas, os engenheiros, auxiliados pelos soldados, iniciam sua montagem. O minuto que todos haviam aguardado com apreensão havia chegado: agora a travessia seria inadiável.
Os barcos foram montados. Mas faltavam remos em quase todos eles. A solução seria remar com os fuzis. Os soldados tiveram que empurrar os barcos até que o fundo não encostasse na areia do rio. Ao entrar de volta nos barcos agora lotados, alguns viraram. Os tanques, nesse momento, já haviam iniciado a cortina de fumaça e a artilharia alemã do outro lado revidava. Restava aos homens remar e rezar. E era exatamente o que faziam. O Major Julian Cook começou a rezar a Ave Maria para marcar o passo da remada dos homens em seu barco. Outros barcos ficaram girando em torno de si por falta de habilidade dos condutores com os remos; alguns tiveram dificuldades de vencer a média correnteza do rio.
O vento subitamente leva para longe a cortina de fumaça. Agora os homens estão remando sem nenhuma proteção, a mercê dos atiradores alemães na margem norte. Nessa altura não existem mais 26 barcos: alguns afundaram e sofreram avarias logo no inicio da travessia. A artilharia alemã daria conta de mais alguns ainda: os soldados se amontoavam nos barcos, tentando desviar das balas que atingiam seus camaradas nos barcos ao lado. Em determinado barco, um soldado levou um tiro certeiro e seu corpo ficou pendurado para o lado de fora do barco, causando terror e embaraço aos tripulantes que tiveram de colocar o corpo dele para dentro. Em outros, o companheiro da frente era ferido, enquanto uma bala passava de raspão pelo capacete do soldado ao lado. Os projeteis da artilharia explodiam na água causando uma chuva de água gelada do rio.
Aos poucos os primeiros barcos atingem a margem norte. Os homens descem rápido e iniciam a travessia pela praia do rio. Os primeiros embates se iniciam e os soldados de Cook vão ganhando terreno. Cerca de 260 homens foram transportados na primeira leva. Pelo menos metade deles morreu ou foram feridos ao longo da travessia.[7] Dos 26 barcos restaram apenas 11, menos da metade dos barcos. Eles seriam levados de volta a fim de trazer os reforços à primeira leva atacante. Os fieis engenheiros iriam ainda realizar mais 4 viagens até trazer todo o batalhão e alguns elementos isolados. As levas seguintes não foram tão prejudicadas pelo fogo inimigo: os primeiros soldados tiveram sucesso ao neutralizar os ninhos de metralhadoras e a artilharia das trincheiras alemãs após o barranco que dava acesso à estrada.
O Ten Thomas Pitt avançava através da praia e costeando a barranca podia enxergar os alemães logo acima. Em pouco tempo começou um jogo de granadas, onde Pitt e alguns homens arremessavam granadas para o outro lado da barragem e os alemães respondiam lançando suas próprias granadas. Pouco depois, com apoio de outros soldados, o Tenente Pitt conseguiu chegar a proximidade da ponte ferroviária, ainda sob forte fogo alemão.
A batalha pela entrada norte da ponte ferroviária de Nijmegen durou cerca de 2 horas. Por volta das 17 horas a ponte havia sido tomada em feroz batalha e mais de 260 alemães jaziam nas proximidades mortos ou feridos. Muitos foram feitos prisioneiros. As companhias H e I, do primeiro assalto, estavam tão cansadas e obstinadas que a visão de seus colegas mortos na praia do rio os impulsionava ainda mais. Um capitão chegou a notar: “o que restou do batalhão parecia tomado pela vontade de se lançar e, enlouquecidos pelo ódio, os homens perderam a noção do medo. Eu nunca vi criaturas humanas se transformarem tão profundamente naquele dia”.[8] Com a ponte ferroviária tomada, os soldados se puseram a caminho da ponte rodoviária sobre o rio Waal. O desenho abaixo é bastante esclarecedor em relação aos locais de partida do assalto anfíbio e das forças nele envolvidas.[9]
O comando da operação alemã estavas nas mãos do Gen. Heinz Harmel, comandante da 10ª Dvisão Panzer-SS Frundsberg. Harmel observava a batalha ao longe, em um posto após a ponte rodoviária. De lá ele não enxergava a ponte ferroviária e não imaginava que ela estava tomada. Ele enxergava a fumaça e o som da batalha, mas os informes que chegavam eram exagerados e imprecisos. Ele estava consciente de que a ponte rodoviária deveria ser destruída. E decidiu que ao passar o primeiro tanque britânico sobre a ponte, ele acionaria a carga de demolição. Mas, por ocasião do destino, ao enxergar o primeiro tanque passar e acionar as cargas a ponte não foi pelos ares. Os tanques britânicos passaram sobre a ponte, vencendo a resistência alemã. A demolição falhou.
Por volta das 19:15 a ponte rodoviária estava tomada. A cidade de Arnhem, ponto culminante da Market Garden, estava a pouco mais de 17 quilômetros dali. A tomada das pontes custou mais de 134 baixas entre os americanos, a maioria de mortos. Cerca de 417 corpos de alemães foram recolhidos posteriormente nas imediações das pontes.[10]
O que aconteceu depois foi de difícil explicação para os homens. Todo o seu sacrifício parecia ter sido em vão. Os tanques ingleses não avançaram depois da ponte. Apenas 400m da estrada estavam seguros pelos aliados e o restante, até Arnhem, deveria ser tomado palmo a palmo e os tanques seriam cruciais para isso. Os ingleses se recusaram a partir a noite. O Coronel Tucker, responsável pela travessia e tomada das pontes, se envolveu em uma acalorada discussão com um oficial britânico. Os britânicos se recusavam a avançar.
O Gen. Gavin, ao ser informado da situação, tomou partido de seus homens. Sabia que era necessário avançar enquanto a defesa alemã ainda não havia se restabelecido em Nijmegen. Era necessário ainda chegar o mais cedo possível em Arnhem para ajudar os pára-quedistas britânicos que, a esta hora, já haviam sido quase que totalmente massacrados pelos elementos Panzer que atravessaram a ponte. Mas Gavin estava consciente dos problemas britânicos: a infantaria ainda estava muitos quilômetros atrás e o combustível dos tanques estava perigosamente baixo. Mesmo concordando com o avanço necessário, as condições não eram ser positivas. Os soldados só partiriam na manhã seguinte em direção a Arnhem. E até lá tiveram que esperar.
[1] Depoimento oral de Thomas F. Pitt, Tenente S-1 do 504º Regimento da 82ª Airborne, falecido em 2 de novembro de 1997. Disponível em http://www.ww2-airborne.us/pictures/82_pictures.html
[2] RYAN, Cornelius. Uma Ponte Longe Demais. BIBLIEX: Rio de Janeiro, 1978. p. 306
[3] RYAN, Cornelius. op. cit. p. 225
[4] BADSEY, Stephen. Arnhem 1944 – Operation Market Garden. Osprey Publishing, 2004. p. 29
[5] WILLIANS, Capt. Robert K. Report of Action, 307 A/B Engr. Bn, to Commanding General, 82nd Airborne Division, 25 September 1944. Retirado do livro YOUNG, Col. Charles H. Into The Valley, The Untold Story of USAAF Troop Carrier in World War II, From North Africa Through Europe. Edição do autor, 1995. Publicado no site http://www.usaaftroopcarrier.com/Holland/H-Waal%20River%20Crossing.htm.
[6] RYAN, Cornelius. op. cit. p. 344
[7] WILLIANS, Capt. Robert K. Report of Action, 307 A/B Engr. Bn, to Commanding General, 82nd Airborne Division, 25 September 1944. Retirado do livro YOUNG, Col. Charles H. Into The Valley, The Untold Story of USAAF Troop Carrier in World War II, From North Africa Through Europe. Edição do autor, 1995. Publicado no site http://www.usaaftroopcarrier.com/Holland/H-Waal%20River%20Crossing.htm.
[8] RYAN, Cornelius. op. cit. p. 352
[9] BADSEY, Stephen. Arnhem 1944 – Operation Market Garden. Osprey Publishing, 2004. p. 51-52. Tradução e diagramação pelo colega Galdino. Muito obrigada!
[10] BADSEY, Stephen. op. cit. . p. 62
2 comentários:
Nossa, não sei nem o que falar sobre esse site...conheço a uns 2 meses mas ja li todas a materias postadas...meus parabéns Fernanda.
Gostaria de saber se tem como entrar em contato comigo, vou começar faculdade de história e quero me especialisar sobre as grandes guerras, gostaria de saber se você poderia me dar algumas dicas e dizer como é nesse meio, pois não conheço ninguem que se interesse por isso.
meu email é brutal.death@hotmail.com
Mais uma vez meus parabéns, não abandone nunca lugar.
Olá! Muito obrigada por suas palavras. Realmente pesquisar e escrever são minha paixão e o blog tem se tornado o maior expoente dessa paixão. Um abraço,
Fernanda
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