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Memórias do Front: SKY TRAMP: um bombardeiro pesado no Pacífico.

O objetivo deste blog é resgatar, através de artigos, histórias de pessoas que se envolveram no maior conflito da História - A Segunda Guerra Mundial - e que permaneceram anônimas ao longo destes 63 anos. O passo inicial de todo artigo publicado é um item de minha coleção, sobretudo do acervo iconográfico, a qual mantenho em pesquisa e atualização. Os textos originados são inéditos bem como a pesquisa que empreendo sobre cada imagem para elucidar a participação destes indivíduos na Guerra.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

SKY TRAMP: um bombardeiro pesado no Pacífico.



Em setembro de 1944 a tripulação do Tenente Spivey defronte de seu bombardeiro B24 J, conhecido como “Sky Tramp” e estacionado em Nova Guiné, tira uma foto. O estilo da foto é clássico para o período da guerra: praticamente todas as tripulações de bombardeio foram fotografadas desta forma por seus companheiros. Os oficiais são reconhecidos por estarem de pé, atrás dos soldados não-comissionados. Estes, sentados ou agachados, sorriem para a foto ou escondem suas faces por trás de bonés ou quepes. Todos formam a tripulação de dez homens que mantém o gigantesco e desengonçado B-24 no céu.

Estes homens possuem um elo em comum: muitos deles se solidarizaram diante da pátria e, após o acontecimento de dezembro de 1941, quando japoneses atacam a base americana de Pearl Harbor, imediatamente se ofereceram como voluntários para lutar contra as forças de Hirohito e Hitler.

Antes de Pearl Harbor – e nos meses subseqüentes – a capacidade militar americana não chegava aos pés de seus oponentes. A Força Aérea não era uma arma independente, fazendo parte do Exército e sendo designada como Força Aérea do Exército – AAF - a partir de 1942. Esta arma possuía apenas 1.257 aviões de combate e 26 mil homens em 1941. O dado, alarmante por certo, impulsionou a criação de uma grande organização educacional para dar conta da necessidade de efetivos que a guerra – agora mundial – exigia.

Os interessados em ingressar no corpo aéreo alistavam-se como soldados rasos nos quartéis próximos de sua região. Passados cerca de 30 dias, após aprenderem os rudimentos da vida militar, estes homens eram transferidos para centenas de universidades em toda a América para passarem por um período de 5 meses de testes e treinamentos em terra. Foi desta forma que o piloto do Sky Tramp, Tenente Spivey, seu co-piloto Bill Blair e os outros homens da tripulação se engajaram no que foi uma das maiores guerras do século XX.

Mas isto não era só: para formarem-se pilotos, navegadores, mecânicos de vôo, radio-operadores era necessário muito mais tempo de treinamento. E isto se refletiu no encaminhar da guerra. O treinamento do qual o Ten. Spivey participou em seus meses ainda nos EUA foi o mais forte e completo oferecido pelas Forças Armadas americanas. Na primeira etapa mais de 50% dos homens candidatos a piloto eram inabilitados. A estatística esperava que cerca de 40% dos restantes completassem as demais etapas e se transformassem em pilotos e co-pilotos capazes de trabalhar submetidos as pressões da guerra e cientes dos alto índice de baixas na AAF. Para se ter uma idéia, dos 317 mil homens que iniciaram o treinamento para piloto e co-piloto durante a Segunda Guerra, apenas 194 mil completaram todo o curso e foram admitidos como pilotos. Este treinamento durava cerca de um ano, até que todos os integrantes, como equipe, fossem designados ao front e transferidos para a zona de batalha.

A tripulação do Ten. Spivey estava ligada ao 72° Esquadrão que, junto de outros três esquadrões, formava o 5° Grupo de Bombardeiro Pesado (Heavy) que fazia parte da 13ª Força Aérea. Este grupo, criado em 1919, teve sua primeira base no Hawaii, responsável por observação e bombardeiro médio. A partir de 1941, o grupo transforma-se em grupo de bombardeiro pesado (Heavy) equipado com aviões B-17 e B-18, recebendo os gigantescos B-24 a partir de 1942. Neste estágio o grupo abandona o Hawaii e ganha bases nas ilhas do Pacífico já dominadas pelas forças aliadas. Sua principal missão é oferecer apoio aos planos de invasão do arquipélago das Ilhas Salomão que comporta a famosa ilha de Guadalcanal. Voando longas missões de patrulha e reconhecimento fotográfico, além de bombardeio, através das ilhas Salomão e Mar Coral, o grupo continuou atacando posições japonesas em Guadalcanal e no norte das ilhas Salomão até 1943.

Nose Art do B24J Sky Tramp

Em seguida, atingiu bases e instalações inimigas em Bougainville, Nova Inglaterra e Nova Irlanda. Entre Abril e maio de 1944 o grupo é responsável pelo ataque sobre Woleai, base japonesa fortemente defendida, ganhando uma Citação Presidencial pela ação. Dando prosseguimento as ações de invasão as ilhas do Pacífico, são neutralizadas bases em Yap e nas ilhas Palau. Em 30 de setembro de 1944 a unidade ganha outra Citação Presidencial pela ação em uma fábrica de óleo em Balikpapan, Borneo.

Quando a foto foi tirada, em setembro de 1944, a guerra no Pacífico para os aliados era uma sucessão de vitórias.[1] O ano de 1944 simbolizou a luta em busca da chegada ao solo japonês, operação complicada que só poderia ser feita tomando-se cada arquipélago e as ilhas que dele faziam parte, sejam grandes ou pequenas. A cada ilha tomada, os americanos poderiam estabelecer novas bases de bombardeios que estariam cada vez mais próximos de Tóquio.

Mas a vitória cobrava alto seu preço: as baixas, dia após dia, aumentavam, sobretudo nas grandes batalhas. Apenas para a conquista das Marianas as tropas terrestres americanas tiveram cerca de 30% de mortos da força atacante total e um número similar de feridos. Mas, para atingir o seu objetivo – acabar com as forças japonesas obrigando-as a rendição – os americanos ainda teriam muitas baixas até a guerra se encerrar, em agosto de 1945 no Pacífico.

A foto nos revela ainda que, em setembro de 1944, o B24 J Sky Tramp já havia realizado 40 missões de combate, e pelo menos 16 missões de reconhecimento.

O esquadrão onde o Sky Tramp serviu até o final da guerra completou uma variedade de missões de outubro de 1944 até o final da guerra. Compreendendo bombardeios nas ilhas de Luzon, Ceram, Halmahera, e Formosa, o grupo também deu cobertura as forças de terra na invasão das Filipinas e Borneu.

A tripulação do Ten. Spivey sobreviveu a estas ações e hoje o co-piloto do B-24 Sky Tramp é presidente da Associação do 72° Esquadrão de Bombardeiro, em Pasadena, Califórnia. A foto que gerou esta pequena história é autografada por este veterano de guerra.

Ficha Técnica

Avião: B-24-J
Número serial: 42-73143
Nome: Sky Tramp
AAF: 13ª
Esquadrão: 72° de Bombardeiro pesado (Heavy)
Grupo: 5° Grupo de Bombardeiro.
Na foto, fileira acima, da esquerda para a direita:
Ten. Terry Spivey, piloto
Ten. Barry Blair, Co-piloto
Ten. Stam Palmer, navegador
Ten. Tom Golenia, bombardeador.

Fileira abaixo, da esquerda para a direita:
Doug Myers, artilheiro
Larry Flood, operador de rádio
John Sharkey, artilheiro de cauda.
Bob Laglois, engenheiro de vôo, artilheiro central
Carl Fraley, artilheiro central
Bob Latham, artilheiro do nariz.

[1] Foto do arquivo pessoal de Fernanda Nascimento. Imagem Inédita.

9 comentários:

Unknown disse...

Muito legal o post! Parabens!

Fernanda de S. Nascimento disse...

Muito obrigada! Em breve novo artigo será publicado!

Vitor. disse...

Parabéns pelo blog!
Muito bom, ótima iniciativa para quem também é apaixonado pela história militar.
Visitarei diariamente.

Snake disse...

Muito bom mesmo..
parabens, espero q continues a postar..
como posso fazer contato contigo?
me add no msn por favor:
rodrigo_br_rs@hotmail.com
abrços

Fernanda de S. Nascimento disse...

Vitor! Grata pelas palavras! Em breve haverá nova atualização. Abraços!

Fernanda de S. Nascimento disse...

Rodrigo, novo post a caminho! Lhe enviei uma mensagem! Muito obtigada pelo apoio! Abraços!

Anônimo disse...

Vou acompanhar os teus artigos !
Tenho interesse especial pelo teatro europeu.

Arthur Jahnke / POA

Fernanda de S. Nascimento disse...

Olá Arthur! Muito obrigada! O próximo artigo a ser publicado será sobre o Teatro Europeu! Creio que irá gostar! UM abraço.

Anônimo disse...

Meu nome é Hugo, tenho 50 anos, sou contador em São Paulo. Apaixonado pelo tema tenho uma ampla coleção de livros. Entre ele a coleção "Historia Ilustrada da Segunda Guerra Mundial" publicada pela Renner nos idos de 1974. São mais de 150 volumes. Como diz o titulo, toda ilustrada. Mais de 10 anos garimpando sebos em sampa. Caso precise de algo para algum post, me avise que scaneio para voce. Só precisa indicar o tema. Contacte tambem por hugo@galtec.com.br.
Abs e Bjs
Hugo